Arquivo da tag: Tostão

Sobre timing e posicionamento

Postado por: Marcos Abrucio

No futebol, timing é tudo, já ensinava o mestre Romário. Como ninguém, ele parecia estar sempre na hora certa, no lugar certo.

Timing que parece ter faltado a jogadores que brilharam em seus clubes, mas que quando chegava a Copa, alguma coisa desandava com eles. O resto do time não era bom, contusões atrapalhavam, a sorte desaparecia na hora H. Resultado: Puskas, Di Stefano e Zico não foram campeões do mundo.

Mas o Anderson Polga, sim.

Zico, zica.

Zico, zica.

Pior é o caso do Zé Roberto. Lateral-esquerdo da Portuguesa vice-campeã brasileira de 1996, foi para o meio de campo na Alemanha, onde jogou no Bayer Leverkusen, Bayern de Munique e Hamburgo.

Na Copa de 98, era reserva de Roberto Carlos – vice-campeão mais uma vez. Em 2006, vivia a melhor fase da carreira. Foi disparado o melhor jogador brasileiro na Copa da Alemanha. Só que mais uma vez a França nos mandou de volta para o aeroporto.

Entre as duas Copas, a de 2002: vitória brasileira, Família Scolari, show de Ronaldo e Rivaldo, olha o Denílson contra a Turquia!, olha o Olodum tocando, ah, que beleza, ah, que saudade… Mas Zé Roberto não foi convocado.

Belletti, Gilberto Silva, Kléberson e Vampeta, sim.

Foi mal, Zé.

Désolé, Zé.

***

A Copa de 2014 no Brasil seria mais um exemplo de falta de timing?

Quem gosta de futebol sempre quis ver uma Copa em casa. E logo agora que ela chegou, putz, o clima tá tenso. Protestos, greves, raiva, indignação coletiva — tudo ao mesmo tempo, fazendo quem quer ver a bola rolar se sentir até culpado.

Como disse no post anterior, tudo isso é legítimo. O que não falta no Brasil é motivo para ficar puto e ir para a rua (® Fiat). Também não acho errado aproveitarem justo essa época para protestar. Faz todo sentido gritar quando todo mundo tá olhando, ora essa. Na África do Sul já foi assim.

Se a Copa (ou melhor, a organização incompetente e corrupta da Copa, por parte do comitê organizador, Fifa, CBF, Governos Federal, Estaduais e Municipais) foi o estopim para a galera se coçar, beleza, azar o dela. Antes agora do que nunca.

Outra coisa: será que teríamos feito tudo diferente em outras épocas? Não teríamos superfaturado, desviado, procrastinado? Será que governos anteriores teriam aberto mão do Mundial frente às exigências da FIFA? Não teriam financiado estádios privados?

Duvido.

Estádios incompletos.

Estádios incompletos.

Em 1950, houve atrasos, gambiarras e dinheiro público derramado à vontade – e ninguém se importou muito com isso. A culpa foi só do Barbosa.

Assim, Copa atual não chegou em hora errada, pelo contrário. Dessa vez, nossa reação foi diferente, indignada com o que houve de errado. Sinal de que o país amadureceu.

***

Outra prova de amadurecimento, dessa vez de cada um de nós, seria conseguirmos diferenciar as coisas.

De um lado, está a vontade de protestar e acabar com tudo que o Brasil tem de errado, injusto, e cruel. Do outro, a paixão pelo futebol e a vontade de torcer pela seleção. Acredite: uma coisa não briga com a outra.

De novo: protestar é legítimo e necessário. E ninguém é obrigado a gostar de futebol, muito menos a torcer pela seleção. Torce quem quer, pra quem quiser. E não faltam motivos para torcer contra.

Mas o cidadão que comprou aquela TV de 95 polegadas nas Casas Bahia porque gosta de futebol, gosta da Copa e gosta do time brasileiro (e tem bastante espaço na sala) não precisa ficar com vergonha. Ele pode torcer pela seleção e ao mesmo tempo reivindicar um país melhor para ela.

Pode parecer difícil achar uma posição entre o oba-oba acrítico e a vontade de arrancar o escalpo do Neymar . Mas já fizemos isso antes.

Uma das épocas mais tristes da história do Brasil.

Tostão em uma das épocas mais tristes da história do Brasil.

Em uma das fases mais críticas da ditadura, fizemos festa para cada um dos 19 gols da seleção de 70. Não porque erámos todos alienados hipócritas. Mas porque sabíamos que uma derrota daquele time não iria soltar ninguém das masmorras.

Eram coisas diferentes.

E olha que o Brasil de junho de 1970 era muito pior do que o de junho de 2014. A tortura e a censura eram corriqueiras, a saúde e a educação eram (ainda) mais precárias e a liberdade era artigo em falta no mercado — não queira se imaginar indo para a rua (® Fiat) naqueles tempos.

Isso não quer dizer que não havia um conflito interno entre os brasileiros. Até entre os jogadores. Para variar, Tostão escreveu um lindo texto sobre aquela Copa. Aí vai um teco:

“Pensei em não ir a Brasília, onde a seleção seria recebida pelo ditador Médici, como protesto. Refleti, racionalizei e achei que deveria ir, pelo compromisso com a seleção, com os companheiros, que deveria separar a política do esporte (…). Freud gostava de repetir uma frase de Shakespeare: ‘A consciência nos faz todos covardes’, no sentido de ser racional, prudente, ético, justo e social. Por outro lado, deixamos, com frequência, de lutar por nossos profundos e verdadeiros desejos, nem sempre compatíveis com nossos deveres sociais.”

Que bom que hoje a gente tem mais liberdade para gritar e ser ouvido. Vamos fazer isso! Mas, ao mesmo tempo. como escreveu o Antônio Prata no último domingo, deixar de curtir a Copa aqui “só deixará sua vida mais chata.”.

Vai-ter-copa-ou-não

***

É possível ser crítico à organização da Copa e ao mesmo tempo curtir o que essa época tem de mais emocionante.

É possível protestar no feice contra os elefantes brancos espalhados pelo Brasil e ao mesmo tempo comprar as figurinhas do Mundial.

E é possível conseguir separar uma vitória sensacional ou uma derrota acachapante da seleção do numerozinho que se vai digitar nas urnas em outubro. Isso sim, seria uma prova de maturidade.

Aposto que vamos conseguir fazer isso. E tomara que eu seja tão preciso nessa aposta quanto ele era dentro da área:

F-Copa

Postado por: Marcos Abrucio

Engana-se quem acha que na vida existem coisas importantes e coisas desimportantes. Não, senhor. Existem também as Coisas Realmente Importantes (CRI).

E uma dessas CRIs está prestes a dar as caras em 2012. Estou falando da Fórmula 1, óbvio.

O que não é tão óbvio assim é um jeito decente de falar de Formula 1 aqui, em um blog sobre futebol e, mais especificamente, sobre a Copa do Mundo. Não tem nada a ver.

Por outro lado, a próxima Copa ainda está longe (pelo menos é o que esperam os pedreiros dos estádios) e não dá para comentar muito sobre uma seleção que sua para ganhar no último minuto da Bósnia. Enquanto isso, a crise de abstinência para ver uma corridinha depois de meses de espera vai, finalmente, acabar nesta semana.

Sendo assim, vamos fazer um esforço. Com um pouquinho de boa vontade, dá para enxergar uma relação entre a categoria principal do automobilismo e o momento mais importante do futebol.

Podemos imaginar, por exemplo, que campeões de F-1 seriam os campeões mundiais de futebol. Hã? Hã? Que tal? Fraco? Bom, tarde demais.

***

Começando pelo Brasil, pentacampeão mundial. Que campeão de F-1 seria equivalente a ele? Fácil, o que tem mais títulos: Michael Schumacher, feliz proprietário de sete canecos.

Ééééééé... do Brasil! Do Brasil?

O piloto alemão é uma belíssima escolha para melhor de todos os tempos. Assim como a seleção brasileira, que no imaginário mundial se tornou sinônimo de futebol bonito, em especial pelo desempenho fantástico nas Copas de 58, 62 e 70.

Schumi também empilhou atuações de gala em sua carreira interminável. Entre suas 91 vitórias (!), muitas são inesquecíveis. Como a do Grande Prémio da Bélgica de 1995, quando largou em 16o. e passou todo mundo embaixo de chuva, mesmo com pneus para pista seca em boa parte do tempo. Um baile.

Há quem reclame que Schumacher só ganhou tantos títulos porque teve a sorte de, no começo dos anos 2000, sentar no melhor carro (Ferrari), com o apoio do melhor projetista da época (Rory Byrne) e de um dos melhores estrategista da história da F-1 (Ross Brawn). Sacanagem, né?

Mas o Brasil também não teve a sorte de poder escalar no mesmo time Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos (em 1958) ou Pelé, Tostão, Gérson, Rivellino e Jairzinho (em 1970)? Então.

Como se esgoelaria o Galvão: Michael Schumacher é o Brasil na Formula 1!

***

E a Itália, quem seria? Alain Prost. Ambos têm quatro títulos mundiais e estão, sem dúvida, no topo dos seus respectivos esportes. Tá certo que algumas vezes eles venceram sem jogar muito bonito, mas venceram.

A retranca italiana mandou para casa seleções que tinham o futebol muito mais vistoso, como a de Zico, Sócrates e Falcão, em 1982. Prost sempre foi cerebral e preciso como um bom zagueiro italiano. E também derrotou brasileiros que jogavam mais bonito: Nelson Piquet em 1986 e Ayrton Senna, em 1989.

Só que, assim como os italianos, o narigudo também sofreu com os brasileiros. Se a Azzurra perdeu as finais de 1970 e 1994 para nós, Prost levou um chapéu de Piquet em 1983 e apanhou de Senna metaforicamente em 1988 e literalmente em 1990:

O piloto francês e a seleção italiana têm muitas semelhanças. O engraçado é que quando Prost foi pilotar na Itália, ele não se deu muito bem, não. Acabou demitido da Ferrari no meio da temporada de 1991, após ter comparado o carro vermelho com um caminhão.

***

Agora a Alemanha. Hmmm. Difícil, hein?

Vamos para a próxima. Depois eu volto aos germânicos.

***

Que campeão de Fómula 1 seria a seleção argentina? Sob o risco de levar pedradas dos dois lados da fronteira, Senna.

Explico. Tanto a seleção portenha como o piloto brasileiro têm fãs devotos, ferrenhos e raivosos, que acham seus ídolos os melhores de todos os tempos em seus respectivos esportes (apesar da matemática jogar contra: nem a Argentina nem Senna são os que mais vezes foram campeões do mundo, mas vai falar isso para um torcedor argentino ou para um hincha sennista).

Mais: os argentinos juram que se a Segunda Guerra Mundial não tivesse impedido a realização de duas Copas, eles seriam muito mais do que bicampeões. Faz sentido. Na década de 40, o time deles era quase imbatível.

Já os sennistas sempre vão argumentar que o piloto brasileiro poderia ter ganho mais do que três títulos não fosse a Tamburello. Faz sentido. O talento de Senna era incontestável, e a gana por mais e mais vitórias, também.

E se o ponto alto da seleção argentina nas Copas foi aquela pintura do Maradona na Copa de 86, Senna também fez um golaço em que partiu lá de trás e driblou meia dúzia para chegar na rede, ops, na frente. Foi na primeira volta do GP da Europa, em Donington, em 1993:

***

Imagine ser um piloto brasileiro dentro de uma escuderia inglesa ­— e que seu companheiro de time também é inglês. Ele é, naturalmente, o preferido de todos dentro do box. Imagine enfrentar esse cara (e toda a torcida contra do resto da equipe) e ainda se tornar o campeão do mundo.

Piquet fez isso em 87, na Williams, quando bateu um Nigel Mansell em ótima fase. E a seleção do Uruguai fez algo parecido em 1950. O Brasil sediava a Copa, fazia uma campanha cheia de goleadas e na final botou 200 mil torcedores no Maracanã. Perdeu para os uruguaios.

Tem brasileiro que esquece o pilotaço que Piquet foi. Três vezes campeão do mundo na década mais disputada da história da Formula 1. Talvez o melhor acertador de carros da categoria. Inventivo, estrategista, marrento, nunca ligou muito para patriotadas ­­— talvez por isso não seja, até hoje, tão popular quanto mereceria.

Por conta de terem ganho “só” duas Copas, os uruguaios também não são muito lembrados pela sua grandeza. Injusto. O princípio da história das Copas foi todo celeste: vencedores em 1930, boicotaram as edições seguintes (marrentos…) e voltaram em 1950 para serem campeões de novo. E só foram perder uma partida de Copa do Mundo nas semifinais de 1954, contra a Hungria.

Depois de décadas com times medíocres, o Uruguai voltou ao seu lugar em 2010: foi semifinalista na África do Sul. E campeão da Copa América no ano passado. Ei, o Piquet também podia voltar, né?

***

E a Alemanha? Aiaiai. Passo.

***

A seleção inglesa venceu a Copa do Mundo apenas uma vez, em 1966. Os pilotos ingleses costumam repetir esse roteiro. Nenhum outro pais tem tantos corredores “monocampeões”: Mike HawthornJohn SurteesJames HuntNigel MansellDamon HillLewis Hamilton e Jenson Button.

Qual desses pilotos seria equivalente à Inglaterra? Os torcedores ingleses, apaixonados por ambos os esportes, adorariam que fosse Lewis Hamilton (talentosíssimo, com muitas glórias pela frente). Mas acho que eles estão mais para Damon Hill (ganhou uma vez só e olhe lá.).

***

A França teve grandes momentos nas Copas (como em 1958, terceira colocada com Just Fontaine, ou nos anos 80, com a geração de Platini e Giresse). Mas nunca ganhava o titulo. Também teve alguns episódios lamentáveis (como cair na primeira fase em 2002 e 2010 ou levar o uniforme errado para o jogo em 1978.) E seguia sem ganhar.

Até que em 1998, liderada por Zidane, finalmente foi campeã. No fim, uma lavada em cima dos brasileiros: 3 a 0.

Nigel Mansell teve grandes momentos na Fórmula 1 (foi três vezes vice-campeão mundial nos anos 80). Mas nunca ganhava o titulo. Também teve alguns episódios lamentáveis (como bater a cabeça em uma ponte após uma vitória enquanto dava tchauzinho para a torcida ou deixar o carro morrer na última volta enquanto… dava tchauzinho para a torcida). E seguia sem ganhar.

Até que em 1992, no supercarro da Williams, finalmente foi campeão. No fim, uma lavada em cima de um brasileiro (Ayrton Senna): 108 pontos a 50.

França ————————> Mansell.

Argentina, Itália, França e Uruguai?

***

A Espanha é atual campeã do mundo de futebol. Tem jogado bonito. Tem vencido com autoridade. Tudo igual ao bicampeão Sebastian Vettel. Mas se a Fúria espanhola for mesmo o moleque da equipe do touro vermelho, aí ferrou. Isso quer dizer que a Espanha vai ganhar as 5 próximas Copas…

***

Droga, faltou a Alemanha. Quem poderia ser?

Jackie Stewart, tão tricampeão quanto? Émerson Fittipaldi, um especialista em se aproveitar do erros e dos infortúnios dos adversários, como sempre foi a pragmática seleção alemã?

Ou Jack Brabham? Ele também foi três vezes campeão, uma delas na raça: em 1959, a 500 metros da chegada da última corrida, seu carro ficou sem gasolina. O piloto australiano pulou do carro e se botou a empurrá-lo, chegando em quarto.

(Tá certo que nem precisava tanto suor: seu adversário pelo campeonato, Tony Brooks, precisava ganhar a corrida para ser campeão. E foi só o terceiro. Mas beleza, a história é boa.)

Brabham: valente feito um volante alemão (hã?).

Já sei: o também tricampeão Niki Lauda! Calculista a ponto de ser chamado de “O Computador”, seria ele o equivalente em quatro rodas do “futebol-força” alemão?

Ah, sei lá. Talvez a seleção alemã seja mais afeita a carrinhos do que a carrões.

***

Poderia continuar a brincadeira com os países que não foram campeões do mundo. A Holanda seria Gilles Villeneuve. Tanto uma como o outro encantaram fãs do esporte com exibições fantásticas. Até hoje os torcedores babam pela revolucionária seleção laranja de 1974 e pelas manobras malucas do canadense ao volante da Ferrari. Mas nem o pai do Jacques nem o time de Cruyff nunca tiveram o prazer de soltar o grito de campeão.

Quem mais? O Japão? Moleza: Satoru Nakajima. El Salvador, que levou a maior goleada das Copas? Yuji Ide. E Camarões? E a Suécia? A Tchecoslováquia?

Chega. Melhor parar por aqui. Não porque eu tenha noção do ridículo. Mas porque, ao contrario da Copa, a temporada de F-1 já vai começar.

Eba.

¡Las Diez Más!

Conversando com meu ponderado amigo Antero, pensamos em uma humilde campanha em prol do bom futebol:

Toda Copa do Mundo tinha que ser no México.

Para sempre. O GP de Mônaco não é sempre nas mesmas ruas de Monte Carlo? Alguma vez o Torneio de Wimbledon foi pra Hong Kong? Então. Toda final de Copa tinha que ser no Estádio Azteca apinhado de gente, num domingo ensolarado, ao som de mariachis. Ok, essa última parte não precisa.

A Copa eternizada na terra de Pancho Villa e Hugo Sanchez seria uma garantia permanente de golaços, jogadas inesquecíveis, jogos palpitantes e craques de primeiro escalão desfilando pra lá e pra cá. Porque foi isso que se viu, em generosas doses, nas duas edições do Mundial jogadas por lá.

Se um dia escolhessem qual foi a melhor das Copas, a de 70 e a de 86 seriam ótimos votos.

Tanto que muitas das minhas referências de obras-primas do futebol têm como moldura os calorentos campos mexicanos. Resultado, mais uma vez, das intermináveis repetições dos teipes da Copa de 70, a Copa dos superlativos. E também das primeiras partidas de Copa que vi ao vivo, em 86.

Para sensibilizar os velhinhos da FIFA a apoiarem essa nobre campanha, deixo aqui a parada com os dez maiores sucessos dos gramados mexicanos:

10) Espanha 5×1 Dinamarca – 1986

Uniforme exótico, futebol envolvente, goleadas. A Dinamarca de 86 parecia até a Holanda 74. Ganhou da Alemanha, da Escócia e meteu 6 no Uruguai. Mas nas oitavas encontrou a Espanha de Emilio Butragueño. Aí a Dinamáquina emperrou.

***

9) Bélgica 4 x 3 URSS – 1986

No gol, o fantástico Dasaev. Na frente, Belanov, autor de três gols na partida. Mas naquela tarde ter esses dois craques não foi suficiente para a finada União Soviética parar uma das surpresas do Mundial de 86, a Bélgica. No tempo normal, 2 a 2, com os belgas sempre atrás. Na prorrogação, o time de Scifo e Ceulemans abriu dois gols de vantagem. No finzinho, os soviéticos descontaram.

***

8 ) Alemanha 3 x 2 Inglaterra – 1970

Quatro anos depois, a decisão de 1966 era repetida, dessa vez nas quartas de final. E parecia que o script seria igual: mesmo sem Gordon Banks, com diarréia, ops, problemas estomacais (é, Copa no México tem dessas), os ingleses abrem 2 a 0. Só que Franz Beckenbauer e Uwe Seeler empatam no segundo tempo e, na prorrogação, o artilheiro daquela Copa, Gerd Müller, vira o jogo e desentala aquele jogo de Wembley da garganta dos alemães.

***

7) Brasil 1 (3) x 1 (4) França – 1986

Ai, como dói. Nem tanto por termos perdido aquela Copa — a seleção estava desfalcada, envelhecida e não chegou a empolgar como quatro anos antes. Mas sim por termos visto a maior injustiça que o futebol perpetrou contra um de seus gênios: o pênalti perdido por Zico. Mas tudo bem: pelo menos o jogo contra a França foi uma partidaça. Num raro caso de choque entre dois times ofensivíssimos, todos os jogadores buscaram a vitória até o final da prorrogação. Não dava para piscar. Dá play aí em cima e vê se eu tô mentido.

***

6) Brasil 3 x Uruguai 1 – 1970

Uma partida de xadrez com lances de vale-tudo que, no fim das contas, foi decidida pela bola no pé. Os uruguaios faziam questão de lembrar: vinte anos antes eles tiraram o doce dos brasileiros em pleno Maracanã. E continuaram nos assustando com faltas duríssimas e inaugurando o placar com um gol de Cubilla. Mas parece que se lembrando de uma promessa feita ao seu pai vinte anos antes, Pelé resolveu dar um joelhaço naquele trauma. Liderou a virada brasileira, com gols de Clodoaldo (num golpe tático maravilhoso), Jairzinho e Rivelino, mandou uma cotovelada medonha num uruguaio e ainda judiou do goleiraço Mazurkiewicz com alguns dos mais belos não-gols da história do futebol.

***

5) Argentina 3 x 2 Alemanha – 1986

O melhor time do Mundial, com o melhor jogador do mundo. Não tinha jeito: a Argentina era a favorita para levar o título. E fez jus às expectativas ao abrir 2 a 0 com até certa tranqüilidade. Mas, como vimos, a Alemanha é casca. E com Rummenigge e Völler, chegou ao empate, faltando 10 minutos para o fim. Aí o melhor do mundo honrou a alcunha: no meio de três alemães, lançou Burruchaga, que tocou no canto de Schumacher. O ponto final de uma das mais emocionantes finais de Copa.

***

4) Brasil 1 x 0 Inglaterra – 1970

É o jogo que a Inglaterra não esquece. O jogo de uma das melhores exibições da seleção inglesa. Da maior defesa de todos os tempos, de Gordon Banks. Do melhor carrinho da história, de Bobby Moore. De uma esquecida grande atuação de Félix. Dos dribles de Tostão, da assistência de Pelé para Jairzinho. Para muitos (principalmente os ingleses), o jogo mais foda de todos os tempos.

***

3) Argentina 2 x 1 Inglaterra – 1986

A Argentina vinha de uma ditadura sanguinolenta e de uma guerra para muitos sem sentido justamente contra a Inglaterra. Mas tinha Maradona, que naquele jogo soterrou todas as mágoas e todos os traumas e fez o sol brilhar de novo no lado de lá da fronteira. Todos sabem: é o jogo do gol de mão e do gol do século, o maior gol de todas as Copas. Mas foi também um jogão disputadíssimo. No final, Gary Lineker, artilheiro da Copa, descontou para os ingleses, que aparecem pela terceira vez nesta lista — e perdem a terceira.

***

2) Brasil 4 x 1 Itália – 1970

O ápice da melhor campanha do melhor time da melhor Copa de todas. Quer mais? O TCC da seleção de Pelé no México até hoje emociona por ser a rara ocasião em que o futebol bonito (no caso, lindo) ganha (no caso, arregaça). O belo time da Itália, símbolo de uma escola completamente oposta de futebol, ainda deu certo trabalho no primeiro tempo. Mas o quinteto brasileiro de camisas 10 (Pelé, Rivelino, Gérson, Tostão e Jarzinho, todos 10 em seus clubes) fez dos 45 minutos finais a maior demonstração de futebol coletivo já vista num jogo de Copa do Mundo.

***

1) Alemanha 4 x 3 Itália – 1970

Essa foi barbada. O “Jogo do Século” em quase toda lista decente. Uma partida tão incrível, mas tão incrível, que já mereceu um post só para ela. Leia e entenda porque nunca houve um jogo como este. No México e em qualquer lugar.

Postado por: Marcos Abrucio

Não era dia de Pelé

México, 1970. Em campo, um dos melhores times do mundo. A multidão aguardava mais um espetáculo da seleção canarinho. E torcia para ser abençoada com um gol de placa do camisa 10, só para ter o gostinho de dizer “Eu estava lá!”. Mas aquele não era dia de Pelé.

Todos de olho no Rei (o da direita)

Desde o apito inicial, os ingleses mostravam que não eram os campeões do mundo à toa. Mas logo aos dez minutos o Rei deu o ar da sua graça: Jairzinho avançou pela direita, foi à linha de fundo e cruzou a bola no alto para Pelé, na segunda trave. O Rei fulminou o goleiro Banks com uma linda cabeceada no canto direito. Gol!!! Gol? Não. O goleiro inglês Gordon Banks saltou no canto e fez uma defesa espetacular.

A partida continuou equilibrada. Os tchecos tentavam segurar o empate até o intervalo. O que não parecia bom negócio para o Brasil, que quase desempatou aos 40 minutos: Pelé viu o goleiro Viktor adiantado e chutou do meio de campo. No desespero o goleiro tcheco correu de volta para sua meta. A multidão, de boca aberta, sofreu com aqueles segundos de suspense. Mas a bola caprichosamente foi para fora. Mesmo assim a torcida foi ao delírio.

O segundo tempo foi marcado pela catimba do adversário e pela garra dos brasileiros. A seleção canarinho queria exorcizar o fantasma de 1950. Os uruguaios, sabendo disso, não paravam de provocar os brasileiros. O início da etapa foi de poucas oportunidades para os dois lados. Até que o goleiro uruguaio Mazurkiewicz resolveu dar um pouco de emoção ao público: cobrou mal um tiro de meta e Pelé devolveu a bola com um chute de primeira, do “meio da rua”. Para sorte uruguaia, o goleiro da celeste olímpica conseguiu evitar o gol.

Mazurkiewicz, em 1970: figurinha carimbada por Pelé

Já nos acréscimos, Mazurkiewicz seria o antagonista de outra jogada genial do Rei. Do campo de defesa, Everaldo deu um chutão para frente. No ataque,  Jairzinho – o “Furacão da Copa” – ganhou a dividida com um uruguaio e rolou a bola para Tostão. O camisa 9 percebeu Pelé passando em velocidade por trás da zaga celeste. O passe foi milimétrico e só restou a Mazurkiewicz sair da meta para evitar o gol do Rei. Em milésimos de segundos, Pelé decidiu deixar a bola passar e enganou o goleiro uruguaio – e todos no estádio. No esforço para alcançar a pelota após o drible, o Rei chutou sem equilíbrio e a bola saiu torta, morrendo na linha de fundo. Por pouco não aconteceu um dos gols mais bonitos de Pelé.

Em seguida, o árbitro apitou o fim da partida. Não era mesmo dia de Pelé… Ou era?! A torcida nas arquibancadas não deu a mínima. Todos aplaudiram de pé o espetáculo. Depois desses quatro lances geniais, havia uma certeza entre os espectadores: era sim dia de Pelé!

Brasil na Copa de 1970: lances geniais que valeram cada ingresso

Postado por: Flávio Tamashiro

O herege

Sim, eu sou. Ou vou ser, depois do que vou escrever agora. Prepare-se. Não é para estômagos fracos:

Se o Messi continuar jogando desse jeito e fizer a Argentina ser campeã, eu não vou ficar triste, não.

Pronto, já posso ir para a fogueira. Mas calma, antes de acender o fósforo, espera só um pouquinho.

Em primeiro lugar, não quero que isso aconteça. Opa, nada disso. A despeito de qualquer objeção que eu possa ter ao time de Dunga, vou, como sempre, torcer muito pelo Brasil. Aliás, só consigo torcer pelo meu time e pela seleção.

Mas tem uma coisa: não dá para ignorar os gênios do esporte. E Messi, ao que parece, está assinando a súmula para entrar nesse time.

Veja o que o cara fez na última semana. Em três jogos pelo Barcelona, ele fez oito gols. Perdão, golaços:

Lionel Messi é novo, tem só 22 anos. E está jogando melhor a cada dia: faz gols de todos os jeitos, dá assistências precisas, dribla como poucos, desmonta retrancas, é decisivo. Num dia é ponta-direita, noutro ponta-esquerda, ponta-de-lança, centroavante… Na atual fase, se ele virar goleiro, pega pênalti.

O baixote adentrou aquele nível em que não dá para torcer contra, só aplaudir. Resta saber quanto tempo ele vai ficar lá em cima. Tostão lembrou bem: Ronaldinho Gaúcho, por dois anos, esteve num ponto em que Zidane e Zico jamais chegaram. Mas depois caiu. Assim, na média, os dois Zs foram melhores.

Pela sua qualidade e juventude e por estar na ascendente, Messi parece que vai ser dos que duram. É desde já um candidato natural a Schumacher, a Phelps, a Federer, a Maradona. A Pelé? Ah, passa amanhã.

O cara é o cara.

Mas duas coisas ainda nos impedem de vaticinar a consagração de Messi no Mundial. Primeiro: com a camisa da seleção, ele nunca jogou um décimo do que joga no Camp Nou. Tudo bem, mais cedo ou mais tarde, ele vai desencantar (tomara que não contra a gente). O problema é outro: não dá, jamais, para saber com antecedência quem vai ser o craque da Copa.

Aos exemplos: em 1982, Paolo Rossi vinha de dois anos de suspensão por ter participado de um esquema de manipulação de resultados. E foi o craque da Copa, porca miséria. Em 2002, parecia que só o Felipão acreditava em Ronaldo e seus joelhos moídos. E Ronaldo foi o cara. Em 2006, Ronaldinho Gaúcho dominaria o mundo. Mal conseguiu dominar a bola.

Maledet, ops, Paolo Rossi

Pô, Argentina e Paolo Rossi no mesmo post?

O craque da Copa pode ser alguém que já é ídolo. Um Romário, um Zidane. Mas também pode ser alguém que saia do banco e vire artilheiro. Tipo o Schilatti, em 90, lembra?

Mas se este titulo cair no colo do Messi, eu vou achar bem legal. Foi mal aí.

Postado por Marcos Abrucio