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O Copawriters errou. (Mas o Brasil, muito mais.)

Postado por: Marcos Abrucio

Pois é.

Havia um erro elementar no meu último post. Eu dizia que, sem Neymar, a seleção não tinha mais a obrigação de ser campeã. Sem essa pressão, poderia a) se acomodar e aceitar a provável derrota para a Alemanha; ou b) se encher de brios e, mesmo sem seu craque, jogar de forma inteligente e ambiciosa pra tentar ganhar dos caras.

Mas, como até os marcianos agora sabem, existia uma outra alternativa: levar a maior piaba da nossa história.

Cadê a bola?

Cadê a bola?

***

(Melhores partes daquele texto: “…não havia mais o risco de um vexame catastrófico, um novo Maracanazo “; “Vergonha nenhuma cair agora [contra a Alemanha]”.

Sabe de nada, inocente.)

***

Se não dava para prever esse atropelamento, mesmo agora ainda é difícil entender o que aconteceu.

Porque 7×1 não existe. Nem no primário, nem na quadra do condomínio. Nem jogando contra o time do seu irmão mais velho. Nem com três jogadores a menos. Também não existe levar quatro gols em seis minutos. Nem no pebolim você consegue tal proeza.

Mesmo no estádio, eu também achei.

Mesmo no estádio, eu também achei.

Mas existem, sim, explicações. E responsáveis:

1) Os jogadores, claro. Foi certamente o pior desempenho da vida de todos – menos de Fred, que foi igualmente péssimo em todos os jogos. Mas mais grave foi a falta de maturidade e controle emocional naqueles malditos 360 segundos. Ninguém conseguiu botar a bola no chão, ou chutá-la para o mato, ou simular um enfarto, enfim, fazer alguma coisa. Qualquer coisa.

Ao contrário do Fred, a zoeira não para.

Ao contrário do Fred, a zoeira não para.

Porém, culpar o “apagão” é simplificar demais. Pior, é esconder o principal: esse time foi mal montado, mal treinado, mal preparado. Mal era um time. E aí chegamos ao maior dos responsáveis, pelo menos pelo que aconteceu na terça:

2) Luiz Felipe Scolari. Dói apontar o dedo para ele. Sem Felipão, o penta não teria vindo. Mas se em 2002 ele foi perfeito, agora foi desastroso. Teimoso, apegou-se ao time do ano passado como quem se apega a uma cueca da sorte. Tudo bem, a lista de convocados não seria muito diferente dessa, mas faltou treinar alternativas de jogo. Fred claramente não estava funcionando, e nunca foi treinada uma opção sem ele. Nosso meio de campo nunca existiu.

Contra a Alemanha, Felipão se superou. O mundo inteiro conhece, pelo menos desde 2006, a força e o brilho do meio-campo alemão. Os olheiros da seleção, Gallo e Roque Jr., recomendaram povoar aquela área (bom, até o meu post recomendava isso!). Sugeriram escalar Paulinho e William. Mas o técnico bancou Bernard, aberto e solitário na ponta. No meio, um deserto.

Oscar sozinho no meio.

Oscar sozinho no meio.

No dia seguinte, Felipão e Parreira afirmaram que não haviam feito nada de errado. Além de incompetentes, arrogantes.

Mas é ilusão achar que nossos problemas acabam aí. Nunca, jamais, podemos esquecer da…

3) Multimilionária CBF, responsável direta pelo paupérrimo futebol praticado por aqui. Quem acompanha o Brasileirão sabe do que estou falando:

Nossos times estão falidos; os jogos, feios, faltosos e modorrentos; a média de público é pífia; o calendário é burro; os técnicos são defasados e prepotentes (mas também milionários); as categorias de base já não revelam mais ninguém.

Nosso “futebol bonito” agora é um jogo defensivo e covarde. Os craques do meio-de-campo deram lugar a zagueiros gigantes, que fazem gols nas bolas paradas e depois fecham o time para garantir o 1×0.

A raiz disso tudo? Nossa maior paixão é administrada por dinossauros arrogantes, despreparados e/ou corruptos.

Tiranossaurus Marinus

Tiranossaurus Marinus.

Mas se está tudo errado, por que não tínhamos passado por essa vergonha interplanetária antes? Primeiro, porque trata-se de futebol, esporte que nem sempre respeita a meritocracia (olha a Argentina, de administração tão arcaica e corrupta quanto a nossa, na final da Copa); segundo, porque nossos craques sempre livraram a cara da seleção.

Só que eles foram rareando, rareando, até sobrar apenas um – e desde a joelhada do Zuñiga na sexta passada, nenhum. Sem nenhum fora-de-série, nós (e o mundo) demos de cara com o real estado de coisas do nosso futebol.

***

Tudo isso, somado, não explica o 7×1. Sim, foi um resultado atípico. Mas não à toa. Só pra comparar:

Desde 2000, a Alemanha reformulou todo o seu futebol, desde as divisões de base de cada clube. Foram anos estimulando a formação de novos jogadores e técnicos. O físico deixou de ser o mais importante no futebol alemão: desde pequenos, os atletas treinam a parte técnica e tática. Em 2006, começa a aparecer uma nova geração de craques habilidosíssimos, fruto dessa política. A comissão técnica da seleção foi mantida e o time foi ficando mais forte. Chegando ao Brasil, construíram um centro de treinamento na Bahia. Testaram diferentes formações, crescendo ao longo da Copa. Para a semifinal, eles estudaram nossa seleção e montaram ensaiaram jogadas como a do primeiro gol.

E o Brasil, o que fez? Chamou o Vampeta e o Edilson para puxarem o pagode no busão.

Depois eu que não sei de nada.

***

O Mineirão antes do caos.

O Mineirão antes do caos.

Foi duro ver de perto Brasil x Alemanha (ou Alemanha x catado dos moleques do meu bairro, não sei ainda). Ainda mais NO MEIO da torcida alemã!

A Alemanha às minhas costas.

A Alemanha às minhas costas.

Mas o sentimento não é de tristeza, como em 50 ou em 82. No Maracanazo, o país era muito diferente, e a virada no finalzinho foi sofrida e inesperada. No Sarriá, choramos a derrota de uma geração admirável, que jogava como sempre sonhamos.

Não é o caso agora.

O que vai doer mesmo é associar uma Copa que foi tão legal, a esse jogo.

A Copa das Copas, dos memes, da zoeira, das zebras, das prorrogações emocionantes, do times ofensivos, da maior média de gols em décadas, das invasões de torcedores do mundo todo, dos latinos acampando na nossa porta, a Copa mais divertida de todas, a que eu assisti em casa, seja no sofá ou no estádio aqui do lado, não merecia isso.

Vou sempre lembrar dessa Copa com alegria. E para manter viva essa sensação, é só dar play aqui embaixo:

OOOOEEEEEEAAAAAAAAA!

O herege

Sim, eu sou. Ou vou ser, depois do que vou escrever agora. Prepare-se. Não é para estômagos fracos:

Se o Messi continuar jogando desse jeito e fizer a Argentina ser campeã, eu não vou ficar triste, não.

Pronto, já posso ir para a fogueira. Mas calma, antes de acender o fósforo, espera só um pouquinho.

Em primeiro lugar, não quero que isso aconteça. Opa, nada disso. A despeito de qualquer objeção que eu possa ter ao time de Dunga, vou, como sempre, torcer muito pelo Brasil. Aliás, só consigo torcer pelo meu time e pela seleção.

Mas tem uma coisa: não dá para ignorar os gênios do esporte. E Messi, ao que parece, está assinando a súmula para entrar nesse time.

Veja o que o cara fez na última semana. Em três jogos pelo Barcelona, ele fez oito gols. Perdão, golaços:

Lionel Messi é novo, tem só 22 anos. E está jogando melhor a cada dia: faz gols de todos os jeitos, dá assistências precisas, dribla como poucos, desmonta retrancas, é decisivo. Num dia é ponta-direita, noutro ponta-esquerda, ponta-de-lança, centroavante… Na atual fase, se ele virar goleiro, pega pênalti.

O baixote adentrou aquele nível em que não dá para torcer contra, só aplaudir. Resta saber quanto tempo ele vai ficar lá em cima. Tostão lembrou bem: Ronaldinho Gaúcho, por dois anos, esteve num ponto em que Zidane e Zico jamais chegaram. Mas depois caiu. Assim, na média, os dois Zs foram melhores.

Pela sua qualidade e juventude e por estar na ascendente, Messi parece que vai ser dos que duram. É desde já um candidato natural a Schumacher, a Phelps, a Federer, a Maradona. A Pelé? Ah, passa amanhã.

O cara é o cara.

Mas duas coisas ainda nos impedem de vaticinar a consagração de Messi no Mundial. Primeiro: com a camisa da seleção, ele nunca jogou um décimo do que joga no Camp Nou. Tudo bem, mais cedo ou mais tarde, ele vai desencantar (tomara que não contra a gente). O problema é outro: não dá, jamais, para saber com antecedência quem vai ser o craque da Copa.

Aos exemplos: em 1982, Paolo Rossi vinha de dois anos de suspensão por ter participado de um esquema de manipulação de resultados. E foi o craque da Copa, porca miséria. Em 2002, parecia que só o Felipão acreditava em Ronaldo e seus joelhos moídos. E Ronaldo foi o cara. Em 2006, Ronaldinho Gaúcho dominaria o mundo. Mal conseguiu dominar a bola.

Maledet, ops, Paolo Rossi

Pô, Argentina e Paolo Rossi no mesmo post?

O craque da Copa pode ser alguém que já é ídolo. Um Romário, um Zidane. Mas também pode ser alguém que saia do banco e vire artilheiro. Tipo o Schilatti, em 90, lembra?

Mas se este titulo cair no colo do Messi, eu vou achar bem legal. Foi mal aí.

Postado por Marcos Abrucio

Profissão: Copeiro

“A vaga é sua. Mas você só começa depois da Copa.”

Faltavam poucos dias para a Copa de 2002 quando eu ouvi isso. Eram duas ótimas notícias disfarçadas de uma-boa-e-outra-ruim.

Uma significava que meu primeiro estágio numa agência grande estava garantido. A outra, que eu poderia ver aquela Copa inteira sentadinho em casa, sem perder nenhum jogo por causa de trabalho, estudo, obrigações, essas coisas chatas e desimportantes.

Meninos, eu vi.

Quanto mais você cresce, mais fica difícil convencer as pessoas que assistir a Paraguai x Eslovênia é um compromisso inadiável. Não dá para cancelar uma prova ou um job para ver um jogo como esse. Que absurdo.

Para mim, um dos motivos da Copa de 1994 ter sido tão genial foi justamente o fato de, na época, eu fazer o colegial de manhã e bundar à tarde, horário de todos os jogos. Conclusão: vi aquela Copa de cabo a rabo.

Em 1998, estava na faculdade. Enquanto Zidane, Ronaldo e Suker brilhavam nos gramados da França, lá estava eu discutindo Baudrillard, Bakhtin e Saussure. Tsc, tsc, tsc.

Quatro anos depois, já estava pronto psicologicamente para deixar a Copa de lado e me entregar covardemente ao sistema capitalista sujo e malvado. Aí ouvi a frase lá de cima. E o sistema capitalista sujo e malvado teve que esperar mais um pouco.

"Acorda! Vai começar Croácia x Equador!"

Livre para ver a Copa, o desafio seguinte era ficar acordado. Para quem não lembra, os primeiros jogos de cada dia começavam às 2h30, e os últimos terminavam às 10h30 da manhã. Tudo bem: como sempre fui de dormir tarde, não tive grandes problemas para trocar o dia pela noite durante aquele mês.

Não que a minha mãe tenha entendido muito bem tudo isso.

Não esqueço da cara de “O que que ele está fazendo com a vida dele?” que ela fez em uma certa manhã. O sol já estava quente e eu me arrastava para a cama depois de assistir a 3 jogos seguidos. Ela olhou bem para  as minhas olheiras, fez que ia falar alguma coisa (“O que que você está fazendo com a sua vida?”?), mas apenas balançou a cabeça.

Para a Copa do pijama ficar perfeita, faltava só o Brasil fazer a parte dele. Esse era o problema.

Foi teste para cardíaco, amigo.

O caminho entre a Copa da França e a do Japão/Coréia talvez tinha sido o mais tortuoso da história da seleção. Principalmente depois que Wanderley Luxemburgo, então treinador brasileiro, perdeu a Olimpíada, o cargo de treinador, o W e o Y.

No lugar dele, entrou Leão, que durou pouco, mas o suficiente para convocar o Leomar (hã?) e apanhar de novo da França. Em seguida, para salvar a pátria de chuteiras, chegou Luiz Felipe Scolari.

Mas mesmo dirigida pelo técnico que todos haviam pedido, as coisas pro lado da seleção continuavam feias. Com ele no banco (e Guilherme e Jardel no campo, credo), o Brasil passou um dos maiores vexames de sua história: a derrota para Honduras na Copa América de 2001.

A classificação para a Copa veio no último jogo, contra a Venezuela. Um sufoco. No começo de 2002, lembro de ver um amistoso em que Felipão botou o Kléberson. Fiquei apavorado: quem era Kléberson? Naquele momento, tive certeza que veria a pior participação brasileira em Copas.

Só que, aos poucos, Scolari foi botando ordem na casa. Montou uma base, ignorou o clamor popular por Romário e principalmente: acreditou em três craques que estavam em baixa: Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo — este, vindo de uma contusão que o fez ficar quase dois anos sem jogar.

Nunca desconfiamos tanto do nosso time, mas quando a Copa começou, havia algo de diferente no ar. Enquanto o Brasil se classificava em primeiro no seu grupo, Argentina e França surpreendentemente ficavam de fora logo na fase inicial. Ei, será que o Brasil iria se dar bem?

Hoje não, Zizou.

A França caiu logo de cara.

A confiança voltou de vez no já clássico jogo contra a Inglaterra. O Brasil ganhou um jogo dificílimo, com bravura, bom futebol e aquela dose de sorte que acompanha os vencedores (especialmente os da Megasena). Na semifinal contra a Turquia, outra partida dura e outra vitória heróica.

O final desta saga todos lembram. Na primeira vez em que trombamos com a Alemanha em Mundiais, uma vitória incontestável: 2 a 0. E, como vocês podem ver abaixo, o segundo melhor jogador em campo naquela final foi justamente… Kléberson!

Ele foi o segundo melhor, porque o melhor de todos, claro, foi o autor dos dois gols. O protagonista da mais incrível história de superação já vista em uma Copa: Ronaldo.

Na época, o Torero listou na Folha as seis etapas que, segundo todo manual de roteiro, as grandes histórias devem ter: apresentação do personagem, crise, recuperação, preparação para o grande confronto, clímax e final feliz.

Entre 1998 e 2002, Ronaldo passou por tudo isso. E quando chegou o final feliz, eu vibrei muito. Só que, em vez de comemorar na Paulista como em 1994, fui direto para a cama.

Depois desse mês sabático-futebolístico, uma pausa que, como diz um grande amigo meu, todo mundo precisa dar de vez em quando, me entreguei covardemente ao sistema capitalista sujo e malvado. Feliz da vida.

Foi ótimo ter acompanhado cada lance daquela Copa. Ter visto mais uma vez o meu time vencer o campeonato mais difícil que existe. Ter acompanhado a ressurreição de Ronaldo. E por fim: não ter pregado o olho nenhuma vez até o apito final.

Não foi todo mundo que conseguiu:

Porra, Noronha!

Postado por: Marcos Abrucio

Ademir e mais 10.

Ouvindo meu pai falar sobre Ademir da Guia durante toda minha infância, demorei a entender como o melhor ídolo da história do Palmeiras jamais havia obtido sucesso na Seleção. Em bem da verdade, me lembro até hoje do dia em que fui pesquisar sobre isso e achei: “Copa de 1974 – Primeiro tempo jogado na disputa do 3º lugar”.

Como assim?! Alguns minutos na disputa da terceira colocação? Só podia ser mentira. Mas era verdade. Claro, uma daquelas verdades indigestas: desde a predileção pessoal de Zagallo e da (influente) imprensa carioca a outros atletas, até a escalação de outros gênios – como Rivellino (que, argh, jogava no Corinthians!).

Não fica triste não, Divino.

Contudo, foi assim que descobri que a história das Copas é repleta de “injustiças justificadas”. Também não deve ser nada fácil para um vascaíno engolir que nada mais, nada menos que Roberto Dinamite tenha sido eliminado junto com toda a Seleção daquela vergonhosa Copa de 1978 (Argentina 6×0 Peru, lembram?) e nem tenha entrado em campo em 1982.

Bonita camisa, Robertinho!

E 1978 traz ainda a ira de colorados pela não escalação de Falcão, assim como 1990 carrega o brado de flamenguistas diante da reserva de Renato Gaúcho. Da mesma forma, são paulinos até hoje pensam em linchar Carlos Alberto Parreira por ter tirado Raí tão cedo do esquema da equipe que foi tetracampeã em 1994 e os mesmos vascaínos pensem em dinamitar Zagallo pela Copa de 1998 sem Edmundo (e com Bebeto já veterano ao lado de Ronaldo).

Eu mesmo senti o amargo de não ver um ídolo com a camisa amarela quando, em 2002, Felipão deixou Alex de fora da meia-esquerda canarinha.

Sorria, Cabeção... não vale a pena chorar pela Copa derramada.

Enfim, são tantos os casos que poderíamos fazer posts e mais posts amargos e cheios de revolta sobre os excluídos das Copas. Mas eles seriam simplesmente inúteis. Por isso, na minha cabeça, todas as equipes brasileiras que participaram entre 1966 e 1974 tinham obrigatoriamente Ademir da Guia e mais 10.

Ainda que, dentre esses outros dez, houvesse um tal de Pelé.

Postado por: Henrique Rojas.