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Os Caniggias

Postado por: Marcos Abrucio

Se o Brasil não ganhou TODAS as edições da Copa do Mundo, a culpa é deles. Dos algozes, dos carrascos, dos verdugos do Brasil. Dos Caniggias.

Para quem não lembra ou estava no maternal na época: Caniggia foi o cara que, com sua pose de vocalista do Poison, recebeu uma bola açucarada de Maradona, driblou Taffarel e defenestrou a seleção do Lazaroni em 1990:

Giggia, Paolo Rossi, Cruyff, Zidane (duas vezes) também nos entubaram em Copas do Mundo. Mas foram ótimos jogadores, dos maiores de todos os tempos. O fato de terem esmigalhado o Brasil foi apenas um de seus muitos feitos.

Já Claudio Caniggia, não. Quando se fala nele, a gente só se lembra daquela tarde em Turim. Do ponto final de uma das piores campanhas brasileiras de todos os tempos. (Tudo bem, vai. A gente também lembra dessa foto.)

Pois bem, quem foram nossos Caniggias? Pra começar, um dos nossos maiores executores, o…

1) Chuveirinho Assassino

Talvez você não tenha reparado, mas nas últimas três Copas que o Brasil perdeu (2010, 2006 e 1998), fomos derrubados por gols de bola parada.

Pausa para a sessão nostalgia-masoquista. 1998 e o “Quem é que sobe?!”:

2006 e o “Sai, Dida!”:

2010 e o “Fica, Júlio Cesar!”:

Dureza. Mas tão perigoso quanto a sanguinária bola aérea é o…

2) Já-ganhou dos Infernos

Claro que o Uruguai tinha um grande time. Mas o diabólico clima de “já-ganhou” criado nos dias que antecederam a final de 1950 foi determinante para a derrota brasileira.

Não por culpa dos jogadores, que fique claro. Um jornal carioca botou em letras garrafais, em cima da foto da seleção: “Eis os Campeões Mundiais” – ANTES do jogo. Políticos não saiam da concentração. Mendes de Morais, então prefeito do Rio, exigiu a vitória em discurso inflamado no Maracanã: “Eu cumpri minha palavra construindo esse estádio, cumpram agora seu dever vencendo a Copa do Mundo.

Com tanto peso nos ombros, não podia dar certo.

Claro que a Holanda de Cruyff era melhor que o Brasil em 1974. Se os dois times jogassem mais duzentas vezes, talvez empatássemos uma ou duas e olhe lá. Mas que o Brasil menosprezou aquele time, ah, menosprezou. Não é, Zagallo?

Além desses dois, também fomos vítimas de outro Caniggia: o…

3) Destino Vil e Cruel

Só o Destino Vil e Cruel explica o grande Leônidas da Silva, artilheiro e melhor jogador da Copa de 1938, tenha sido apenas o terceiro colocado no Mundial.

Diamonds are forever.

Diamonds are forever.

O Destino Vil e Cruel, esse fanfarrão, determinou que a geração de Zico, Sócrates e Falcão não levantasse o caneco ao menos uma vez. O DVC, esse dissimulado, ainda nos fez acreditar que o Galinho, ao perder aquele pênalti em 86, era o nosso algoz. Mentira. A culpa é do Destino, esse canalha. Canalha, vil e cruel.

Por outro lado, ora, ora, ora, quem também nos abateu em pleno voo foi o…

4) Destino Sábio e Misericordioso

Sim, ele também sabe o que faz. E acertadamente nos tirou de Copas que não merecíamos, de forma alguma, vencer. Como em 1930, 34, 54, 78 e 90.

Em 30 e 34, as federações cariocas e paulistas brigaram, impedindo craques como Arthur Friedenreich de embarcarem para a Copa. Perdemos logo de cara, bem feito para nós.

Em 54, apanhamos da Hungria na bola e partimos para o pau, em um dos episódios mais tristes das Copas, a Batalha de Berna. Feio, feio…

Para a Copa de 66, foram convocados 47 jogadores (!), entre eles dois Ditões (!!). O certo era o do Corinthians, mas chamaram por engano o do Flamengo. Para não ficar chato, deixaram os dois.  Na Argentina, em 78, Chicão foi convocado, Falcão não. Dá pra ser campeão assim?

Em 90, um time triste, com três zagueiros, três volantes – e ninguém marcando o Maradona. Quis o Destino, de forma sábia e misericordiosa, que não passássemos das oitavas. Não merecíamos mais do que isso. Mais do que o Caniggia argentino, foi a intervenção desse Caniggia onipotente que nos mandou de volta para casa mais cedo.

***

Que Caniggia pode nos derrubar agora? Difícil dizer antes da bola rolar. Os Caniggias são sorrateiros e aparecem de surpresa na área, sem marcação (né, Dunga, Alemão, Mozer, Ricardo Gomes, Mauro Galvão?).

Grandes adversários vão aparecer em nosso caminho. Mas por enquanto, meu maior temor é de um parente do Já-ganhou dos Infernos: o Terrível Não-Pode-Perder-Nem-Ferrando. O medo das consequências de uma derrota (vergonha mundial? Saques? Quebra-quebra?) pode pressionar nosso time a ponto de paralisá-lo.

Toc, toc, toc. Vira essa boca pra lá.

Por ora, importante mesmo é o que o vídeo abaixo comprova: a Copa finalmente chegou no Brasil!

 

Os 23 hoje, 24/07/2012

Postado por: Marcos Abrucio

Para espantar a poeira destas bandas, inauguro agora mais uma espetacular seção* aqui no Copawriters: Os 23 hoje.

O propósito dela é, como o nome sutilmente sugere, listar os 23 jogadores que deveriam estar na seleção se o dia da convocação para a Copa fosse… hoje.

O critério científico para a elaboração desta lista é justamente imaginar que não falta mais nenhum minuto para o prazo final. Não dá mais para esperar um bom lateral-esquerdo aparecer, o Kaká voltar a jogar bem ou o Adriano perder 20 kg. Já era, acabou o tempo.

Nesse cenário, com quem a seleção deveria contar? Ora, eu digo. De nada, Mano.

“Joia!”

Tudo isso, claro, segundo a minha reles opinião, desculpaê. E como amanhã a minha opinião vai ser diferente da de hoje, que aliás é diferente da de ontem, a lista vai mudar o tempo todo.

Por isso esta seção será atualizada periodicamente. Para ver os nomes que se manterão, os que ficarão pelo caminho, os que surgirão do nada. No fim, vamos conferir quais integrantes da lista oficial, citados com orgulho na entrevista coletiva da CBF às vésperas da Copa, estiveram por aqui desde o começo. Oh, que expectativa.

***

Escrevo a lista abaixo antes das Olimpíadas, que certamente queimarão minha língua. Mas tudo bem. A ideia é essa mesmo: ver os fatos me contradizerem.

E lógico que vão me contradizer, ô se vão. A realidade tem essa mania chata de desmentir tudo que a gente acha.

Certeza que amanhã mesmo algum jogador que eu “convoquei” vai se contundir seriamente; outro vai cair na gandaia; um vai parar de jogar bem, outro vai voltar a jogar mal; vai ter jogador ficando sem clube, jogador sendo vendido para a Espanha (e caindo na gandaia), sendo vendido para a Ucrânia (e caindo em depressão); jogador sumindo, mascarando, namorando uma paniquete, se aposentando ou, sei lá, trocando de sexo (e caindo na gandaia).

Bom, hoje esses caras fazem parte dos 23. Amanhã, pode ser que não.

Certeza também que um moleque de quem nunca se ouviu falar, que hoje tem 15 anos e joga bola numa rua de terra ou na quadra da escola ou no condomínio ou na escolinha do Rivellino vai chegar arrebentando em 2014 e será convocado após um clamor nacional e se tornará o craque da Copa, amém.

Esse moleque não está nos 23 hoje. Amanhã, pode estar.

***

Última (e dolorosa) coisa: não temos 23 craques. Alguns nomes desta lista estão bem longe disso. Mas eu não podia deixá-la incompleta.

Goleiro, por exemplo. Tá fraco. Pensei em colocar como terceira opção um cone, mas fiquei com medo de confundirem com o Doni, então melhor não.

Craques, tapa-buracos ou enganadores, isso é o que temos por hoje:

Goleiros:
Julio Cesar (Internazionale/ITA)
Jefferson (Botafogo)
Gabriel (Milan/ITA)

Laterais:
Daniel Alves (Barcelona/ESP)
Maicon (Internazionale/ITA)
Marcelo (Real Madrid/ESP)
Rafael (Manchester/ING)

Zagueiros:
Thiago Silva (Paris Saint Germain/FRA)
David Luiz (Chelsea/ING)
Dedé (Vasco)
Juan (Internazionale/ITA)

Meio-campistas:
Sandro (Tottenhan/ING)
Rômulo (Spartak/RUS)
Paulinho (Corinthians)
Hernanes (Lazio/ITA)
Ramires (Chelsea/ING)
Oscar (Chelsea/ING)
Ronaldinho Gaúcho, pois é (Atlético Mineiro)
Lucas (São Paulo)
Messi  (Ah, não pode? Perdão.)

Atacantes:
Neymar (Santos)
Leandro Damião (Internacional)
Bernard (Atlético Mineiro)
Hulk (Porto/POR)

Agora eu te entendo, Dunga. Mentira, não entendo, não.

Agora eu te entendo, Dunga. Mentira, não entendo, não.

***

* E, em breve, voltamos com mais uma seção, os Uniformes Inesquecíveis da Humanidade. Prometo!).

A mensagem é o meio

Escrevo antes da final da Copa. E antes que o assunto seleção brasileira murche de vez, aqui vai uma última e breve divagação.

As reações apaixonadas aos posts contra e a favor de Dunga (de Antonio Nogueira e de Antero Neto) que propositalmente confrontamos aqui chamaram minha atenção para dois pontos, um ligado ao outro.

O primeiro é que cada texto (e seus respectivos apoiadores) se associa a uma maneira oposta de ver o futebol.

Uma visão é a de que o futebol é berço da arte, do prazer, da alegria. Para os defensores deste lado, mais importante que ganhar é encantar. E a melhor maneira de entrar para a história é jogando bonito.

Quem está deste lado provavelmente condenou o futebol pregado pelo (agora ex) treinador da seleção.

Uma visão antagônica a essa lembra que o futebol, antes de ser um espetáculo, é um esporte. E no esporte, busca-se a vitória, ora essa. Beleza? Arte? Nada: o resultado é mais importante. Como na guerra, quem entra para os livros é quem ganha.

Quem concorda com isso deve estar entre os que apoiaram o texto que livra a cara de Dunga.

Mas outra coisa chamou a minha atenção:

As seleções brasileiras das duas últimas Copas foram talhadas para agradar em cheio os defensores de cada uma dessas posições — a de 2006 era a que jogaria bonito; a de 2010, traria a vitória a qualquer custo. Só que essas seleções acabaram decepcionando até quem concordava com a visão que elas representavam.

Explico: a seleção de 2006, com seu quadrado mágico, com atletas que foram eleitos os melhores do mundo e tocavam a bola de pé em pé embalados pelo mantra “joga bonito”, deveria encantar quem apóia um futebol mais, digamos, artístico.

Só que ela acabou desapontando os defensores da poesia no futebol ao desfilar na maior parte do tempo uma performance apática, desinteressada, sem inspiração. Fosse um espetáculo, levaria tomates.

Já 2010 seria a forra de quem sempre viu no grupo anterior um bando de mercenários sem gana. Agora teríamos um técnico enérgico, que faria de tudo pelo resultado e comandaria um grupo de guerreiros, de “comprometidos” com a seleção brasileira.

Mas a guerreira e comprometida seleção de 2010 fraquejou ante à Holanda. Perdeu todo o prumo após dois gols bestas. As pernas tremeram e ninguém conseguiu fazer nada para conseguir o resultado — aquele que justificaria tudo, lembra?

As duas visões extremas sobre o futebol falharam. Então pergunto: por que não o caminho do meio?

Como em 2002, quando Felipão botou ordem na casa depois da mais acidentada campanha que o Brasil já teve nas eliminatórias.

Ele fortaleceu a defesa, botou três zagueiros e fechou os ouvidos para os pedidos por um envelhecido Romário. Mas apostou nos craques. Botou Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo para decidirem a Copa. Decidiram.

O meio, gente. Como em… 1970.

Isso mesmo, a mais brilhante seleção de todos os tempos, a que mais deu espetáculo e mais abasteceu o You Tube com lances superlativos era sim, “comprometida”.

A começar pelo começo: a delegação foi a primeira a chegar no México, para se aclimatar à altitude. A preparação foi tão perfeita que em todos os jogos a seleção sobrava no segundo tempo.

Ela tinha também muita obediência tática. Tostão sempre lembra que, quando não tinha a bola, aquele time voltava todo para marcar a saída do adversário. Solto, só ficava Pelé.

Pelé, aliás, é outro exemplo de seriedade daquele grupo. Ele já era a maior estrela do futebol mundial há uma década. Mas botou na cabeça que faria de tudo para ganhar e arrebentar na sua última Copa. Ganhou e arrebentou.

Perceba, pelos exemplos, que o meio não é sinônimo de medíocre. Pelo contrário. Evitar os extremos pode ser o caminho para ser brilhante.

Pois é. No futebol, nem sempre o melhor é jogar pelas pontas.

***

Agora escrevo logo após a final da Copa. E deu Espanha.

O time com os jogadores mais habilidosos, que nunca maltratou a bola e que ganhou tudo desde as categorias de base superou merecidamente um time pragmático e que bateu muito, na Copa toda e em especial na final.

O futebol bonito venceu o futebol de resultados?

Calma, nada é tão simples. O time do futebol-arte foi o campeão com o menor númerode gols na história das Copas. E, embora tocasse lindamente a bola, muitas vezes não tinha objetividade alguma.

E o time que não se importava com o espetáculo havia vencido todos os seus jogos desde as eliminatórias, tinha feito doze gols na Copa e contava com dois grandes jogadores, Robben e Sneijder.

Como a vida, o futebol é complicado. E, em ambos, convém não ser nem tanto lá, nem tanto cá.

(* amanhã, mais sobre a final da Copa.)

Postado por: Marcos Abrucio

Copawriter de Fora V: Temos um culpado, por Antonio Nogueira

Assim que aquele juiz japonês apitou o final do jogo e os jogadores de azul desceram chorando para o vestiário, os brasileiros passaram a se dedicar a uma outra questão:

Afinal, foi o Dunga que ferrou tudo ou não?

O território nacional se dividiu entre os defensores de cada lado.

Para muitos, Dunga formatou esta seleção à sua cara, e o fracasso de uma significa, inevitavelmente, o fracasso do outro. Ainda mais que ele sempre defendeu o estilo o-que-importa-é-o-resultado. Logo…

Para outros, no entanto, Dunga fez um bom trabalho. Basta batermos os olhos nos resultados da seleção em quatro anos. Além disso, ele fez exatamente o que lhe foi pedido após a derrota de 2006: “moralizou” a seleção, montou um time de “comprometidos” e conquistou resultados importantes.

Como o Copawriters é, antes de tudo, um espaço democrático (e como já coloquei minha posição aqui), abrimos um cantinho aqui para dois grandes entendedores de futebol darem sua opinião. Um afirma que Dunga foi, sim, bem-sucedido. Outro defende que a derrota da seleção muito se deve aos erros e defeitos do treinador. (Treinador? rs…)

Aqui está a visão do Copawriter convidado Antonio Nogueira. E, se quiser ver uma opinião oposta da dele, clique aqui.

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Temos um culpado

Essa temporada de caça às bruxas que se abre no Brasil cada vez que perdemos uma Copa é ridícula, inútil e desnecessária.

Nós temos sede de vingança. Temos sede de achar UM culpado. E aí, já foi o Barbosa em 50, Zagalo em 74, Cerezo em 82, Zico em 86, Dunga em 90, Ronaldo em 98. A lista é extensa. Na maioria absoluta, a análise e o julgamento são rasos. Superficiais.

As coisas não são tão simples assim. Existem sempre vários fatores, alguns até extra-campo, que influenciam um resultado, um lance, um erro. Achar que o Brasil seria campeão em 86 caso o Zico guardasse aquele pênalti contra a França é de um simplismo pueril, só para ficar em um único exemplo.

Mas estamos diante de uma exceção.

Nessa Copa de 2010, nem é preciso procurar muito para achar um culpado, de tão óbvio que ele é.

Seu nome é Carlos Caetano.

Evidentemente.

Porque o que me irrita não é perder. Perder ou ganhar faz parte do jogo. Temos que nos acostumar com isso (nós brasileiros normalmente esquecemos esse detalhe).

O que me irrita é perder pelos motivos que todo mundo cantou antes da Copa.

Quantos e quantos cronistas esportivos falaram em uma provável expulsão do Felipe Melo em um jogo decisivo?

Quantos e quantos cronistas esportivos, redatores publicitários, médicos e vendedores de enciclopédia alertaram para a falta de talentos no banco de reservas?

Concordo que o Brasil não vive lá sua melhor safra de jogadores. Não temos um super-craque. Mas o Dunga, em nome de um vago “comprometimento”, abdicou de alguns caras que poderiam mudar um resultado adverso para abraçar (e morrer abraçado com) um grupo de qualidade duvidosa.

Exemplos? Ronaldinho Gaúcho. Mesmo não tendo lá um grande histórico na seleção, é um cara que poderia entrar aos 30 do 2º tempo e mudar um jogo. O Ganso, idem (esse tinha que ter ido até pra pegar vivência de Copa). Até o cachaceiro do Adriano poderia entrar na hora do abafa pra tentar fazer um gol de canela. Qual defesa do mundo não teme o Adriano?

Mas não. Carlos Caetano preferiu seus mini-dungas Josué, Kleberson, Julio Batista, Grafite. Dedicados porém incapazes de mudar um jogo, incapazes de assustar a defesa “dos alemão”.

O Brasil perdeu em parte por isso e em parte pelo desequilíbrio emocional do time. Desequilíbrio que começou a aparecer quando o bom-moço Kaká foi expulso.

Depois do 1º gol holandês, quando o jogo ainda tava na nossa mão (aquele gol de empate deles foi um acidente), o time desmoronou emocionalmente. Até o risonho Robinho exibia uma expressão facial de guerreiro espartano.

Esse desequilíbrio vem de onde? Do banco. Onde, aos 30 do 1º tempo, com seu time vencendo e jogando bonito, Carlos Caetano esmurrava a proteção do banco de reservas enfurecidamente.

Qualquer trainee de RH sabe: toda equipe é a cara do chefe. Chefe bem-humorado, equipe bem-humorada. Chefe estressado, equipe estressada. Chefe louco-furioso-vociferando-contra-todos-e-encarando-a-Copa-como-uma-guerra-pessoal-dele-contra-o-mundo, equipe idem.

Carlos Caetano confunde garra com raiva. Determinação com ódio. Vontade de vencer com vontade de mandar todo mundo tomar no !@#$%&*. Quem não se lembra dele levantando a taça em 94 e, ao invés de curtir, xingar a tudo e a todos?

Está claro que esse desequilíbrio do comandante desestabilizou a equipe. Que, na primeira vez que pegou um adversário de qualidade e tomou um gol de empate, espanou. Não aguentou a pressão. Não a pressão da Holanda, que não houve. Mas a pressão interna, psicológica, emocional, enfim, muito mais letal.

Então, vamos juntar as pontas: quem convocou e bancou Felipe Melo? Quem deixou bons jogadores de fora pra levar outros de talento duvidoso e ficar sem opção no banco? Quem passou desequilíbrio e falta de bom senso ao grupo?

Pois é.

Tá fácil achar o responsável, né?

Mas pensando bem, a culpa nem é dele.

Desculpa, Carlos Caetano.

A culpa não é sua.

A culpa é do sr. Ricardo Teixeira, que contratou para o cargo mais importante do futebol uma pessoa bronca, teimosa e despreparada como você.


Copawriter de Fora IV: Em futebol se ganha, se perde e se empata, por Antero Neto

Assim que aquele juiz japonês apitou o final do jogo e os jogadores de azul desceram chorando para o vestiário, os brasileiros passaram a se dedicar a uma outra questão:

Afinal, foi o Dunga que ferrou tudo ou não?

O território nacional se dividiu entre os defensores de cada lado.

Para muitos, Dunga formatou esta seleção à sua cara, e o fracasso de uma significa, inevitavelmente, o fracasso do outro. Ainda mais que ele sempre defendeu o estilo o-que-importa-é-o-resultado. Logo…

Para outros, no entanto, Dunga fez um bom trabalho. Basta batermos os olhos nos resultados da seleção em quatro anos. Além disso, ele fez exatamente o que lhe foi pedido após a derrota de 2006: “moralizou” a seleção, montou um time de “comprometidos” e conquistou resultados importantes.

Como o Copawriters é, antes de tudo, um espaço democrático (e como já coloquei minha posição aqui), abrimos um cantinho aqui para dois grandes entendedores de futebol darem sua opinião. Um afirma que Dunga foi, sim, bem-sucedido fez, sim, um trabalho bem feito (correção pedida pelo autor). Outro defende que a derrota da seleção muito se deve aos erros e defeitos do treinador. (Treinador? rs…)

Aqui está a visão do Copawriter convidado Antero Neto. E, se quiser ver uma opinião oposta da dele, clique aqui.

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Em futebol se ganha, se perde e se empata.

A frase do título é do Dino Sani. É simples. É óbvia. Mas é extremamente sofisticada. Tão sofisticada que muita gente inteligente, com diploma de jornalista e tudo, não a entende.

O Brasil, mais uma vez, está fora de uma Copa do Mundo. Mais uma vez. Quase uma rotina. Tudo bem, somos pentacampeões e tal, mas, matematicamente falando, perdemos muito mais Copas do que ganhamos. E toda vez que essa tragédia nacional acontece, começa o ritual de caça as bruxas. Temos aí diversos exemplos de “culpados”. Barbosa em 50 foi “o culpado”. Toninho Cerezo, cracaço de bola, foi “o culpado” em 82. Em 90 todo mundo apontou o dedo para o Lazaroni. E hoje, um dia após a eliminação do Brasil contra a Holanda o que eu mais escuto é: “culpa do Dunga”.

Pois bem, amigos da Rede Globo, a culpa não é do Dunga. Aliás, a culpa não é de ninguém. Esse raciocínio de “procurar um culpado”, para nós, brasileiros, soa tão elementar que parece lógico. Mas não é. Essa verdadeira fixação nacional em procurar culpados é muito natural quando nascemos no maior país católico do mundo. Mas veja bem: eu disse natural. Não disse correto.

O Dunga não é culpado de absolutamente nada. Pelo contrário, fez um ótimo trabalho. E se você acha que com essa frase eu comprei uma briga com 190 milhões de pessoas, sugiro que continue lendo. Já se o querido leitor pertence a classe dos que “não podem ser contrariados”, aproveite que está na internet e mude de site i-me-di-a-ta-men-te. Porque a exaltação que fiz do trabalho do Dunga foi apenas a ponta do iceberg.

Mas então se o trabalho do Dunga foi tão bom como diz o Antero, por que raios estamos fora da Copa? Por uma série de pequenos detalhes que, somados, nos mandaram pra casa.

A primeira coisa que precisamos observar é que esta não era a Copa do Mundo de Basquete. Nem de vôlei. Nem de golfe. Era a Copa do Mundo de futebol. E futebol, ao contrário dos outros esportes, permite que o pior ganhe do melhor. E justamente por essa característica genial, é o melhor jogo que existe na face da Terra.

Ok, então a Holanda é pior que o Brasil e ganhou porque é um jogo de futebol? Não, não é isso. A Holanda não é melhor que o Brasil. E o Brasil também não é melhor que a Holanda. São times bastante equivalentes, mas, por uma dessas coisas maravilhosas do futebol, no primeiro tempo, os times não foram iguais. O Brasil deu um banho de bola nos laranjas e se terminasse os primeiros 45 minutos com um sonoro 3 x 0 verde-amarelo não haveria nenhuma injustiça. Mas foi “só” 1 x 0.

E então voltamos para o segundo tempo com aquela agradável e idiota sensação que de “era uma questão de tempo” para fazermos a sonhada laranjada. E não é que tenhamos subestimado o adversário. Não. Absolutamente não. O que eu, você e todo o planeta esperávamos era o segundo tempo, a continuação do jogo, a continuação do banho de bola.

Mas veio o segundo tempo e, com ele, a imprevisibilidade de um jogo de futebol: o melhor goleiro do mundo falha numa saída do gol simples e banal. Coisa que ele faz com naturalidade e perfeição 99,99% das vezes. Maldito 0,01%. Maldito gol da Holanda.

E gol em futebol sabemos todos que é algo mágico. É a razão de ser do jogo. Os holandeses, naturalmente, se animaram. Os brasileiros, até então tidos como donos de uma defesa extremamente sólida e de um ataque mortal, se deram conta que, talvez, a defesa não fosse tão sólida assim. Pois 10 minutos depois, escanteio para os holandeses e pimba: a melhor zaga do mundo leva um gol primário, infantil. Mais que isso, leva um gol em sua especialidade: a bola parada.

Aí o time sentiu, como tradicionalmente sentem  todas as Seleções Brasileiras quando se deparam com a perspectiva de voltar para casa mais cedo e passar pela tradicional “CPI do culpado”. O time começou a errar e, quanto mais errava, mais erros apareciam. Falência futebolística completa.

E o Dunga? O que tem o Dunga a ver com isso? Ele é o técnico do time, ora bolas. Mas o que o técnico do time tem de culpa quando o melhor goleiro do mundo falha e a zaga mais sólida do mundial toma um gol de pelada? Eu penso que não tem absolutamente nada que ver. O trabalho de um treinador de futebol deve ser avaliado sob três aspectos: montar um grupo, organizar um time e dar consistência de jogo a este time. Me parece que Dunga cumpriu essas três missões com perfeição.

Ou não tínhamos um grupo coeso? Ou não tínhamos um time muito bem organizado? Ou não tínhamos uma proposta clara e consistente de jogo? Claro que tínhamos. O Brasil de Dunga era chamado pelo mundo todo de “Brasil fatal”, um time de defesa sólida e contra-ataque mortífero. Um time contra o qual era proibido errar. Essa foi a seleção que o Dunga montou. E, claro, para fazer isso, ele teve que seguir as suas convicções.

Mas agora que a seleção perdeu, escuto muito falar que o Dunga foi “arrogante” porque não convocou esse ou aquele. É muito interessante essa palavra: “arrogante”. O Felipão em 2002 também contrariou o “clamor popular” e não levou Romário. Só que como a Seleção ganhou, Felipão entrou para a história como um técnico com “convicções”. Se tivesse perdido, seria “arrogante” por não ter levado o Romário. Felipão em 2002 formou a “família Scolari”. Exatamente a mesma coisa que Dunga fez nessa Copa: fechou um grupo.

Mas como perdemos em 2010, a imprensa diz que Dunga abriu mão dos craques. Mas que craques? Se referem ao Ronaldinho Gaúcho? Aquele cara que não teve nenhum comprometimento em 2006?  Que se escondeu do jogo enquanto a França nos mandava para casa na última Copa? Ou melhor, se escondeu não: de vez em quando ele aparecia para mostrar para a câmera a faixa no cabelo com o logo da Nike.

Ronaldinho, aquele cara que joga demais contra o Siena e a Udinese, mas que sumiu no jogo decisivo contra a Inter de Milão esse ano no italiano? Aquele cara que foi convocado e não jogou absolutamente nada nas Olimpíadas? Esse é o craque?

Ou o craque é o Neymar, que nos últimos 4 jogos pelo Santos no Brasileirão foi substituído por insuficiência técnica? Talvez o craque seja então o Ganso, que apareceu para o futebol há 6 meses e tem como o “jogo da vida” a partida contra o Santo André? É algum desses “craques” que entraria numa quarta de final de Copa do Mundo, contra a Holanda e viraria o jogo, é isso? Claro que não.

Acho Ganso e Neymar excelentes promessas. Jogadores que podem vir a ser grandes craques, especialmente o Ganso. Mas ainda não são. Não podem ser postos na mesma gaveta que Ronaldo, Romário, Zidane, Zico, Falcão, Maradona, Beckenbauer. Esses sim são craques.

Falam muito também que o Dunga não foi “respeitoso” com a imprensa. Realmente eu acho que, vez que outra, o Dunga se passou com a imprensa. Mas não foi ele quem começou. Não mesmo. Vocês se lembram o que dizia “O Globo” quando o Dunga assumiu a Seleção em 2006? “Um técnico para três meses”. Isso não me parece lá muito “respeitoso”. Mas aí o time do Dunga venceu a Copa América, mais que isso: goleou a Argentina com Messi, Tevez, Riquelme e tudo. A imprensa teve que engolir o Dunga. E o Brasil de Dunga começou a ganhar. Nos classificamos para a Copa com 4 rodadas de antecedência (o que não acontecia, pasmem, há 40 anos) e, de lambuja, enfiou 3, de novo, na a essa altura freguesa Argentina, em Rosário.

A imprensa teve que engolir mais um pouquinho o Dunga. Engoliu, mas não digeriu. Passaram a falar sistematicamente que o Dunga se vestia mal (mas é São Paulo Fashion Week ou futebol?). A Seleção venceu a Alemanha, goleou a Itália, amassou Portugal e, depois, venceu a Copa das Confederações. Aí a imprensa passou a dizer que o futebol do time do Dunga não era o legítimo futebol brasileiro, onde estavam os craques e blablablablablá.

Não sei vocês, mas me parece razoável que depois de 4 anos ouvindo tudo isso, ele reagisse. Claro que o Dunga poderia ser mais comedido. Mas pergunto a vocês: a imprensa também não poderia ter sido um pouco mais comedida?

O que quero mostrar aqui é que houve um critério sério e digno por parte do Dunga na formação dessa Seleção. O time foi comprometido, organizado e, queiram ou não, jogou bem. Ou alguém ignora que o banho de bola que a Holanda levou no primeiro tempo foi dado pelo time do Dunga?

Mas enfim, o Dunga não é mais o técnico do Brasil e, como disse antes, futebol é um jogo fantástico porque permite uma série de variações táticas, técnicas, psicológicas, físicas, etc. E, em cada uma dessas nuances, há um universo a ser analisado. Por isso acho raso demais optarmos por olhar meramente pelo resultado. Acho também lamentável a caça as bruxas. Prefiro outra abordagem. Prefiro responder a esta pergunta: esta seleção brasileira que ontem foi eliminada pela Holanda, tinha condições de ser campeã mundial? Eu, pessoalmente, acho que sim. E, por isso, acho que o Dunga fez um ótimo trabalho e compro essa briga: quem detona o Dunga não é torcedor da Seleção Brasileira. É torcedor da vitória.