O povo tentou. A imprensa tentou. Os colegas de profissão, idem. Mas se tem alguém que poderia fazer Dunga mudar suas convicções na hora da convocação, esse alguém era Jorge Amorim de Oliveira Campos. Ou simplesmente Jorginho.
O ex-lateral-direito é parceiro de Dunga na seleção brasileira desde 1983, época em que foram campeões mundiais na categoria júnior. Jogador muito técnico e raçudo, participou de grandes times como o Flamengo (anos 1980) e a seleção brasileira tetracampeã em 1994.
Atuou ao lado de craques como Zico, Júnior, Careca, Bebeto, Romário, Mozer, Mauro Galvão, entre outros. Jogadores de técnica refinada e futebol bonito. Gente que valorizava a arte sem deixar de ser competitivo.
Ao contrário de Dunga, que baseou sua carreira na força e na raça, Jorginho buscava o jogo bonito. É verdade que sua forma de jogar ganhou vigor com a passagem pela Alemanha – provável inspiração do futebol eficiente pregado por Dunga. E, no fim da carreira, já de volta ao Brasil, Jorginho começou a se destacar mais pela liderança em campo, já que as pernas não tinham mais a mesma força.
A carreira do ex-lateral indicava um futuro treinador com mentalidade mais ofensiva no esquema de jogo. Uma reverência aos grandes esquadrões do Brasil em Copas e – por que não? – ao timaço do Flamengo de sua época.
Ao acompanhar as decisões da dupla Dunga-Jorginho, no entanto, percebemos que outras experiências influenciaram em suas decisões: as Copas de 1990 e 1994.
Em 1990, sob a batuta de Sebastião Lazaroni, a seleção brasileira teve uma das atuações mais controversas em Mundiais: o time não engrenava e o esquema europeizado não agradava. O futebol-força daquela seleção foi deixado para trás em uma arrancada de Caniggia após passe de Maradona.
Já em 1994, Parreira optou pelo futebol defensivo e pragmático para conquistar a Copa. Jorginho foi o titular da lateral-direita naquela seleção e parece ter aprendido os métodos de seu treinador. Futebol sem ousadia, mas eficiente.
Apesar de saber de todo esse histórico, milhões de brasileiros tinham esperança de que Jorginho lembrasse do passado distante ofensivo e esquecesse do passado recente pragmático. E mais do que isso: percebesse que Kaká não pode ser o único responsável por apresentar lances que decidam uma partida. Ronaldinho Gaúcho, Neymar e Ganso eram nomes que o antigo Jorginho não deixaria de fora, ou pelo menos, lutaria por eles na lista.
Convocação anunciada, decepção no ar. Porra, Jorginho! Os três ficaram de fora. E muitos representantes do futebol-força – ou seria do futebol esforçado? – estavam na lista definitiva. Lista definitiva? Ronaldinho e Ganso estão na “lista de espera”. Vai que alguém brinca de goleiro em um treino e…
Muitos disseram que Dunga foi incoerente ao deixá-los na segunda lista, já que nunca passou pela sua cabeça contar com os dois entre os 23 preferidos. Pensando bem, a lista de espera cheia de jogadores técnicos pode não ter sido por acaso: talvez seja influência do antigo Jorginho, querendo ser coerente com sua origem ligada ao futebol-arte.
Postado por Flávio Tamashiro