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Por quem torço

Postado por: Marcos Abrucio

Como se sabe, o melhor do futebol é torcer (em segundo lugar, torcer contra). É por isso que, apesar de todas as suspeitas, bandalheiras, cafonices e decepções, quando chega a Copa eu não abro mão de apoiar o meu time – o Brasil-sil-sil.

(Lembrando que cada um tem seu time, ou nenhum time e torce se quiser. Se estiver a fim de torcer contra a seleção, fica a vontade. Valeu.)

Mas ser torcedor é tão bom que na Copa a gente não se esgoela por uma seleção só. Eu, por exemplo, também torço…

1) Pelos EUA.

Sim, pelos ianques imperialistas malditos. Vibrei nos jogos contra Gana e Portugal e sofri quando a Bélgica mandou os ianques imperialistas malditos para casa. Mas não foi só agora. Em toda Copa, estou eu ao lado desses caras:

Por quê? Imagina que você é um excelente jogador de badminton. Campeão mundial, ídolo na Tailândia e Indonésia, o caramba. Só que ninguém na sua rua sabe disso. Ninguém tem a menor ideia do que é badminton. “Peteca? Você joga peteca?”, todos perguntam.

É o que acontece com o futebol. O Brasil é pentacampeão mundial, teve os melhores jogadores de todos os tempos… e os EUA, que controlam a maioria da mídia e da indústria do entretenimento planetário não estão nem aí. “Com os pés? Vocês pegam na bola com os pés?“, eles perguntam.

Eu acredito que quanto melhores os americanos se saírem nas Copas, mais vão amar o esporte. E mais vão dar valor a quem manda nessa droga, nós.

Torcer pelos EUA (o que não é nada fácil, acredite) = torcer pelo Brasil.

Tá dando certo, olha só:

Em vez de futebol americano, futebol.

Em vez de futebol americano, futebol.

Em vez de beisebol, futebol.

Em vez de beisebol, futebol.

Em vez de House of Cards, futebol.

Em vez de House of Cards, futebol.

***

2) Pelos pequenos.

Eu (e todo mundo, admita) sempre torço pelos timecos contra as potências. Não é (só) espírito de porco. É também a emoção de ver que no futebol todos têm chances, mesmo os menores, os mais fracos, os mais toscos, os americanos.

É o que faz deste o mais democrático dos esportes – e por isso mesmo, o mais nobre dos esportes.

Por isso vibramos tanto com zebras como essa:

***

3) Pelos Grandes (Craques).

Não, não torci pela Argentina ou por Portugal. Mas não torci contra Messi ou Cristiano Ronaldo, como muitos fizeram.

(Para mim, vaiar a cada vez que eles tocam na bola é inexplicável. Os caras são os melhores do mundo no que fazem, e as pessoas ficam torcendo para eles se ferrarem. É como ir a um show do Eric Clapton e torcer para ele errar uma nota.)

Os gênios do esporte merecem respeito – e sempre tiveram a minha torcida. Nunca torci contra Michael Schumacher, Michael Phelps, Michael Jordan e todos os outros grandes Michaels. Apesar de não serem brasileiros, nunca tive problema nenhum com as hegemonias que eles impuseram. Eles são o que a espécie teve de melhor.

Torcer por eles = torcer pela humanidade.

Ele merece.

Ele merece.

***

4) Pelos goleiros.

Aí é por solidariedade de classe. Mas torci muito pelo interminável italiano Buffon, pelo inacreditável mexicano Ochoa, pelo elástico nigeriano Eneyama, pelo surpreendente argelino Rais e pelo milagroso americano Howard.

Mas não adiantou muito, não. Já foram todos para casa.

Ochooooooooooooaaaaaaaaaaaaa.

Ochooooooooooooaaaaaaaaaaaaa.

Raiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis.

Raiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis.

Hoooooooooooooooward.

Hoooooooooooooooward. 

***

5) Pelas prorrogações e pelos pênaltis.

Quando não é o meu time que está no meio, claro. Mas prorrogação e pênaltis para os outros é um belo refresco. E quanto mais dramáticos, mais sangue e mais ranger de dentes, melhor.

É, nesse caso, acho que é espírito de porco, mesmo.

***

Mas eu torço mesmo é…

6) Para essa Copa nunca acabar.

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(foto)

Os Caniggias

Postado por: Marcos Abrucio

Se o Brasil não ganhou TODAS as edições da Copa do Mundo, a culpa é deles. Dos algozes, dos carrascos, dos verdugos do Brasil. Dos Caniggias.

Para quem não lembra ou estava no maternal na época: Caniggia foi o cara que, com sua pose de vocalista do Poison, recebeu uma bola açucarada de Maradona, driblou Taffarel e defenestrou a seleção do Lazaroni em 1990:

Giggia, Paolo Rossi, Cruyff, Zidane (duas vezes) também nos entubaram em Copas do Mundo. Mas foram ótimos jogadores, dos maiores de todos os tempos. O fato de terem esmigalhado o Brasil foi apenas um de seus muitos feitos.

Já Claudio Caniggia, não. Quando se fala nele, a gente só se lembra daquela tarde em Turim. Do ponto final de uma das piores campanhas brasileiras de todos os tempos. (Tudo bem, vai. A gente também lembra dessa foto.)

Pois bem, quem foram nossos Caniggias? Pra começar, um dos nossos maiores executores, o…

1) Chuveirinho Assassino

Talvez você não tenha reparado, mas nas últimas três Copas que o Brasil perdeu (2010, 2006 e 1998), fomos derrubados por gols de bola parada.

Pausa para a sessão nostalgia-masoquista. 1998 e o “Quem é que sobe?!”:

2006 e o “Sai, Dida!”:

2010 e o “Fica, Júlio Cesar!”:

Dureza. Mas tão perigoso quanto a sanguinária bola aérea é o…

2) Já-ganhou dos Infernos

Claro que o Uruguai tinha um grande time. Mas o diabólico clima de “já-ganhou” criado nos dias que antecederam a final de 1950 foi determinante para a derrota brasileira.

Não por culpa dos jogadores, que fique claro. Um jornal carioca botou em letras garrafais, em cima da foto da seleção: “Eis os Campeões Mundiais” – ANTES do jogo. Políticos não saiam da concentração. Mendes de Morais, então prefeito do Rio, exigiu a vitória em discurso inflamado no Maracanã: “Eu cumpri minha palavra construindo esse estádio, cumpram agora seu dever vencendo a Copa do Mundo.

Com tanto peso nos ombros, não podia dar certo.

Claro que a Holanda de Cruyff era melhor que o Brasil em 1974. Se os dois times jogassem mais duzentas vezes, talvez empatássemos uma ou duas e olhe lá. Mas que o Brasil menosprezou aquele time, ah, menosprezou. Não é, Zagallo?

Além desses dois, também fomos vítimas de outro Caniggia: o…

3) Destino Vil e Cruel

Só o Destino Vil e Cruel explica o grande Leônidas da Silva, artilheiro e melhor jogador da Copa de 1938, tenha sido apenas o terceiro colocado no Mundial.

Diamonds are forever.

Diamonds are forever.

O Destino Vil e Cruel, esse fanfarrão, determinou que a geração de Zico, Sócrates e Falcão não levantasse o caneco ao menos uma vez. O DVC, esse dissimulado, ainda nos fez acreditar que o Galinho, ao perder aquele pênalti em 86, era o nosso algoz. Mentira. A culpa é do Destino, esse canalha. Canalha, vil e cruel.

Por outro lado, ora, ora, ora, quem também nos abateu em pleno voo foi o…

4) Destino Sábio e Misericordioso

Sim, ele também sabe o que faz. E acertadamente nos tirou de Copas que não merecíamos, de forma alguma, vencer. Como em 1930, 34, 54, 78 e 90.

Em 30 e 34, as federações cariocas e paulistas brigaram, impedindo craques como Arthur Friedenreich de embarcarem para a Copa. Perdemos logo de cara, bem feito para nós.

Em 54, apanhamos da Hungria na bola e partimos para o pau, em um dos episódios mais tristes das Copas, a Batalha de Berna. Feio, feio…

Para a Copa de 66, foram convocados 47 jogadores (!), entre eles dois Ditões (!!). O certo era o do Corinthians, mas chamaram por engano o do Flamengo. Para não ficar chato, deixaram os dois.  Na Argentina, em 78, Chicão foi convocado, Falcão não. Dá pra ser campeão assim?

Em 90, um time triste, com três zagueiros, três volantes – e ninguém marcando o Maradona. Quis o Destino, de forma sábia e misericordiosa, que não passássemos das oitavas. Não merecíamos mais do que isso. Mais do que o Caniggia argentino, foi a intervenção desse Caniggia onipotente que nos mandou de volta para casa mais cedo.

***

Que Caniggia pode nos derrubar agora? Difícil dizer antes da bola rolar. Os Caniggias são sorrateiros e aparecem de surpresa na área, sem marcação (né, Dunga, Alemão, Mozer, Ricardo Gomes, Mauro Galvão?).

Grandes adversários vão aparecer em nosso caminho. Mas por enquanto, meu maior temor é de um parente do Já-ganhou dos Infernos: o Terrível Não-Pode-Perder-Nem-Ferrando. O medo das consequências de uma derrota (vergonha mundial? Saques? Quebra-quebra?) pode pressionar nosso time a ponto de paralisá-lo.

Toc, toc, toc. Vira essa boca pra lá.

Por ora, importante mesmo é o que o vídeo abaixo comprova: a Copa finalmente chegou no Brasil!

 

Os goleiros que já fui

Desde criança, sempre gostei de ser goleiro. Mas não, nunca curti apanhar de chicotinho nem levar cera quente na barriga.

Minha opção não foi fruto de masoquismo, e sim da vontade de ser protagonista de uma partida de futebol. Queria decidir o jogo, e não apenas ser mais um dentro de campo. Como minha megalomania era inversamente proporcional ao talento com a bola, não deu para ser o centroavante matador ou o meia que dá ritmo ao jogo. Restou apenas um lugar no gol, refúgio infalível dos perebas de todo o mundo.

Ser goleiro era minha chance de virar herói. Nem que para isso corresse o risco de, no primeiro frango, virar vilão. Sem contar o risco permanente de levar porradas de tudo quanto é lado.

Desde os mais longínquos recreios, passei uma infinidade de partidas embaixo das traves. E fiquei ali até há pouco mais de um ano.

Quinta à noite, quadra perto de casa. O atacante adversário invade a área. Sem antes pensar se meu plano de saúde estava em dia, caio nos pés dele. O cara corta para o lado, eu estico o braço direito. O zagueiro do meu time também se joga no lance e, no meio daquele bolo, aconteceu isso aqui:

Ouch!

Depois, isso aqui:

Arrrrgh!

E, inevitavelmente, mais isso:

Eyjafjallajoekull!

Seguido de um bom período com isso aqui:

Ô, coisa linda!

Não sei até hoje quem chutou meu dedão. Só sei que ele quebrou feito um palito de dentes. Pronto-socorro, gesso, cirurgia, seis parafusos, mais gesso, depois uma órtese sob medida, fisioterapia.

E a carreira de goleiro, interrompida. Não que o futebol tenha sentido essa perda, claro.

Mas esse afastamento dos campos e quadras me fez lembrar de todos os goleiros que eu já fui. Sim, fui. Caso você tenha pulado a infância, saiba que quando criança a gente sempre brinca que é um craque famoso. No meu caso, um guarda-metas famoso.

Não qualquer goleiro, óbvio. Goleiro bom de ser é aquele que, alem de defender muito, tem um nome bem sonoro. Por que? Simples: para, a cada defesa, podermos gritá-lo a plenos pulmões.

Aqui vai outra explicação a quem foi direto do maternal para a faculdade: durante a infância, acumulamos as funções de jogador e narrador. Não basta fazer uma grande jogada, temos que narrá-la. Isso é normal, não vá bater no seu filho se ele fizer isso.

Saiba, aliás, que foi desse jeito que o maior de todos os jogadores ganhou seu apelido. Quando pequeno, Edson gostava de pegar no gol e gritar o nome de Bilé, goleiro do time em que seu pai jogava, em Bauru. Como a criançada não entendia bem o que o menino gritava (ou a dicção do rei nunca foi muito seu forte, entende?), ele passou a ser chamado de Pelé.

Um dos primeiros goleiros que eu fui cumpria bem os requisitos citados: Harald Shumacher (ou, depois de cada defesa, Schuuuuuumaaaaaaaaaaacher!!!!) jogava muito e tinha um nome que assustava — isso muito antes do seu homônimo queixudo assombrar a F-1.

Já falei bastante do arqueiro alemão aqui — onde, aliás, escrevi o nome dele errado: é Harald, não Herald.

Herald, ops, Harald defendeu sua seleção por sete anos e em duas Copas do Mundo. Na semifinal de 1982, se destacou ao defender duas cobranças na primeira decisão por pênaltis da história das Copas. Minutos antes, com a bola ainda rolando, quase destacou a cabeça do francês  Battiston do resto do seu corpo. Hoje Schumacher é mais lembrado por esse golpe do que pelas elásticas defesas mostradas na Espanha e, quatro anos depois, no México. Coitado. Do Battiston, claro.

Schumacher é o que não está inconsciente.

Em 1986, fui outro goleiraço. Embora não ostentasse um nome assim tão poderoso, ele tinha a vantagem de jogar nos meus times, a seleção e o Corinthians. Trata-se de Caaaaaaaaaaaaaaaaaarlooooos!

Meus vizinhos ouviram tanto esse grito que devem ter se perguntado se eu tinha trocado de nome.

Carlos: nos anos 80, goleiro da seleção e do Brasil.

Desde que surgiu na Ponte Preta, Carlos era apontado como um dos melhores goleiros do Brasil. Foi reserva de Leão em 1978 e, por causa de uma lesão no cotovelo, de Waldir Peres em 1982. Na Copa seguinte, finalmente conquistou um lugar no time. E correspondeu: até a partida contra a França, ele não tinha levado nenhum gol.

Só que este jogo mostrou de maneira cruel o motivo de Carlos até hoje não ser reconhecido como deveria: o cara era azarado pra burro.

Na decisão por pênaltis, Bellone manda uma bomba na trave. Carlos acerta o canto. A bola volta do poste, bate nas suas costas e entra. Os brasileiros ainda reclamam com o árbitro, dizendo que aquilo não valia. Mas valia.

Pior que não foi a primeira vez que a asa negra do destino enchia a boca de Carlos de penas (urgh). No primeiro jogo da histórica final do Paulistão de 1977, ainda defendendo a Ponte, Carlos tenta impedir um gol do corintiano Palhinha. O atacante chuta, a bola bate em Carlos, volta no nariz de Palhinha e entra.

Depois de Carlos, incorporei outro goleiro tão bom quanto, embora, admito, menos zicado: camaronês Thomas N’Kono.

Um dos melhores jogadores africanos de todos os tempos, N’Kono chamou a atenção do mundo na Copa de 1982. Levou só um gol e acabou indo jogar na Espanha. Na Copa da Itália, em 1990, ele fez parte do time para o qual todos acabamos torcendo. O italiano Gianluigi Buffon conta que decidiu ser goleiro ao ver de perto o arqueiro de Camarões.

Mas eu gostava mesmo de N’Kono porque ele jogava com uma calça igualzinha ao moleton que eu sujava no quintal. O problema era gritar o nome dele. Aquele “n” era mudo ou pronunciado? Complicado, complicado.

Lá em casa, N’Kono virava Niiiiiiiiiikooooono.

Mas o nome que mais vezes eu urrei a cada defesa foi outro: o do arqueiro soviético Rinat Dasaeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeev!

Já metia medo logo de cara.

Durante a década de 1980, Dasaev foi eleito quatro vezes o melhor goleiro do mundo. Os soviéticos finalmente tinham encontrado um sucessor para Lev Yashin, o Aranha Negra, talvez o melhor de todos. E os brasileiros viram de perto como o cara era bão.

O Brasil estreou na Copa de 1982 contra a URSS. Os adversários saíram na frente, num frangaço de Waldir Peres (e o Carlos no banco!). E aí começou um bombardeio contra os comunistas, não de Reagan, mas de Zico, Éder, Sócrates, Falcão…

Dasaev pegou todas as bolas possíveis. Só entraram duas impossíveis, dois tirambaços de fora da área de Sócrates e Éder, já no final do jogo.

Na Copa de 86, Dasaev operou mais alguns milagres, mas de novo a União Soviética foi eliminada. Ainda participou de um jogo da Copa de 1990, mas já estava no final da carreira. Em 1991, pendurou as luvas quando defendia o Sevilla, da Espanha.

Dasaev parecia frio como Ivan Drago e, como o rival de Rocky, também era o produto de muito treinamento. Ágil, flexível, saía do gol e armava contra-ataques como poucos. Mas sua maior arma era o nome: juro que os atacantes tremiam de medo quando me ouviam gritar: Dasaeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeev (é, eu fiquei rouco muitas vezes quando criança).

Trilha sonora dessa foto: Dasaeeeeeeeeev!

Com o passar do tempo, fui outros grandes goleiros, sempre com grandes nomes: Taffareeeeeeeeeeeeeeeeel, Schmeeeeeeeeeichel, Preud’Hooooomme… Tentei representar dignamente cada um deles, mas gritando cada vez menos. É que vai ficando meio chato gritar o nome de outro cara quando você já se tornou… um cara.

Mas mesmo com os gritos guardados, continuei jogando contra os colegas da firma como se fosse uma final de Copa do Mundo. As arquibancadas estavam sempre cheias. O atacante adversário, sempre um craque. As minhas defesas, sempre milagrosas.

Passado um ano da contusão, estou liberado para voltar. Falta apenas superar o temor de enfiar de novo minha mão numa dividida.

Enquanto isso, fico me perguntando qual nome gritarei (pelo menos na minha cabeça) quando fizer a primeira defesa.

Que tal Doooooooooooooooooooooooniiiiiiiiii!!?

Not!

Uia!

Postado por Marcos Abrucio

O herege

Sim, eu sou. Ou vou ser, depois do que vou escrever agora. Prepare-se. Não é para estômagos fracos:

Se o Messi continuar jogando desse jeito e fizer a Argentina ser campeã, eu não vou ficar triste, não.

Pronto, já posso ir para a fogueira. Mas calma, antes de acender o fósforo, espera só um pouquinho.

Em primeiro lugar, não quero que isso aconteça. Opa, nada disso. A despeito de qualquer objeção que eu possa ter ao time de Dunga, vou, como sempre, torcer muito pelo Brasil. Aliás, só consigo torcer pelo meu time e pela seleção.

Mas tem uma coisa: não dá para ignorar os gênios do esporte. E Messi, ao que parece, está assinando a súmula para entrar nesse time.

Veja o que o cara fez na última semana. Em três jogos pelo Barcelona, ele fez oito gols. Perdão, golaços:

Lionel Messi é novo, tem só 22 anos. E está jogando melhor a cada dia: faz gols de todos os jeitos, dá assistências precisas, dribla como poucos, desmonta retrancas, é decisivo. Num dia é ponta-direita, noutro ponta-esquerda, ponta-de-lança, centroavante… Na atual fase, se ele virar goleiro, pega pênalti.

O baixote adentrou aquele nível em que não dá para torcer contra, só aplaudir. Resta saber quanto tempo ele vai ficar lá em cima. Tostão lembrou bem: Ronaldinho Gaúcho, por dois anos, esteve num ponto em que Zidane e Zico jamais chegaram. Mas depois caiu. Assim, na média, os dois Zs foram melhores.

Pela sua qualidade e juventude e por estar na ascendente, Messi parece que vai ser dos que duram. É desde já um candidato natural a Schumacher, a Phelps, a Federer, a Maradona. A Pelé? Ah, passa amanhã.

O cara é o cara.

Mas duas coisas ainda nos impedem de vaticinar a consagração de Messi no Mundial. Primeiro: com a camisa da seleção, ele nunca jogou um décimo do que joga no Camp Nou. Tudo bem, mais cedo ou mais tarde, ele vai desencantar (tomara que não contra a gente). O problema é outro: não dá, jamais, para saber com antecedência quem vai ser o craque da Copa.

Aos exemplos: em 1982, Paolo Rossi vinha de dois anos de suspensão por ter participado de um esquema de manipulação de resultados. E foi o craque da Copa, porca miséria. Em 2002, parecia que só o Felipão acreditava em Ronaldo e seus joelhos moídos. E Ronaldo foi o cara. Em 2006, Ronaldinho Gaúcho dominaria o mundo. Mal conseguiu dominar a bola.

Maledet, ops, Paolo Rossi

Pô, Argentina e Paolo Rossi no mesmo post?

O craque da Copa pode ser alguém que já é ídolo. Um Romário, um Zidane. Mas também pode ser alguém que saia do banco e vire artilheiro. Tipo o Schilatti, em 90, lembra?

Mas se este titulo cair no colo do Messi, eu vou achar bem legal. Foi mal aí.

Postado por Marcos Abrucio

Por um volante a menos

No Mundial 2010 de Fórmula 1, estarão nas pistas Felipe Massa, Rubens Barrichello, Lucas Di Grassi e Bruno Senna — se a equipe dele realmente existir. Ao todo, serão 3 ou 4 volantes brasileiros.

Já no Mundial 2010 de Futebol, esse número sobe para 8.

É esse o tanto de volantes, ex-volantes e possíveis volantes que Dunga chamou para o amistoso contra a Irlanda. Contem comigo: os “oficiais” Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué e Kleberson. Adicione quem já jogou por ali (e pode jogar de novo sem problema nenhum): Daniel Alves, Elano, Ramires e Julio Batista. Oito.

Como este é o último jogo antes da convocação para a Copa, podemos concluir que essa turma toda já botou um pezinho na África do Sul. E que Ronaldinho Gaúcho, como não foi convocado, deve pensar seriamente em comprar uma TV maior para ver o Mundial em casa.

Calma. Não vamos discutir nomes (senão o Josué nem pegava o passaporte), mas sim o número de volantes.

Com ele, são 9.

Há no grupo de Dunga uma desproporção entre quem é esforçado e quem pode decidir um jogo. São muitos os raçudos, e que bom que eles estão lá. Mas a Alemanha, a Inglaterra, a Itália e a Espanha também os têm aos montes.

Quem sempre fez diferença a nosso favor foi o jogador habilidoso, criativo, imprevisível, capaz de quebrar o esquema adversário com um drible, um lançamento, um corta-luz. Na seleção atual, poucos têm essas credenciais: Kaká (se a pubalgia deixar), Robinho e, vá lá, Luis Fabiano.

Enquanto isso, Ronaldinho Gaúcho voltou a jogar bem pelo Milan. Com alguma irregularidade, mas voltou. Parece mais maduro que na Alemanha e com vontade de voltar à forma de 2004/2005, quando foi o melhor do mundo. Ele não precisa (ainda) ser titular da seleção. Mas precisa estar no avião para a Copa.

Porque craque tem que ir. Dá-se um jeito. Se o treinador Dunga der esse jeito, pode entrar para a história. Onde já está o jogador (volante!) Dunga.

***

Sempre gostei do Dunga dentro de campo. Primeiro, claro, porque ele jogou no Corinthians. Jogou pouco, mas bem. Em um jogo contra o Santos, fez um golaço quase do meio de campo (Juro que isso aconteceu, embora não tenha achado no You Tube. Ou será que o que não está no You Tube não aconteceu?).

Você já se vestiu melhor, Dunga.

Quando criança, achava legal o estilo dele. Era sério e incansável na marcação e, de vez em quando, soltava uns tirambaços de fora da área. No meu quintal, quando mandava umas bicas que faziam voar o chinelo, sempre gritava o nome dele. Por tudo isso, achei injusta a sua crucificação solitária em 1990. Era um time cheio de defeitos e a franjinha do cabeça-de-área, só mais um deles.

Em 1994, o cara fez uma Copa brilhante. Ajudou a proteger a melhor defesa brasileira que eu tinha visto até então. Mais do que isso: liderou a equipe e acertou inúmeros lançamentos longos para os atacantes. Além de converter seu pênalti na final, claro.

Com a inevitável decadência física, em 98 sua liderança já era mais anedótica do que efetiva. Mas ao contrário de outros, caiu em pé. Foi um grande jogador.

***

Nunca gostei do Dunga à beira de campo. Não era o melhor nome para o cargo, insistiu em nomes duvidosos (Afonso? Doni?), foi mal-humorado e rancoroso demais com quem o criticou, muitas vezes lento nas ações e pouco criativo nas substituições. E, como 11 entre 10 técnicos da seleção, teimoso pra dedéu.

Mas é um vencedor. Não se pode negar isso. Levou uma Copa América e uma Copa das Confederações, liderou as eliminatórias e chacoalhou a Argentina algumas vezes. Mais importante: com alguns solavancos, montou uma base.

Por respeito aos resultados de Dunga como técnico, aqui não se discute tanto a convocação que ele fez. Um ou outro jogador, apenas. E principalmente: a opção por levar uma manada de volantes e quase nenhum fora-de-série.

***

O bom trabalho de Dunga até agora o fez convicto de suas decisões. Só que a coerência e a fidelidade a seu grupo podem fazê-lo cometer o único crime que os brasileiros não perdoam numa Copa: dispensar o talento.

Pensa: e se o púbis do Kaká não trabalhar direito e, sei lá, o púbis do Robinho trabalhar demais e por conta disso os dois não brilharem na África? Aí dependeremos apenas da garra. Porque a habilidade vai estar em falta.

#tiraumvolante, Dunga. E leva o Gaúcho.

***

Ok, agora vamos falar de nomes. Com um volante a menos, abre-se espaço para Ronaldinho Gaúcho. O que torna inútil a presença de Júlio Batista, jogador voluntarioso e aguerrido, mas em má fase na Roma.

Sem ele, sobraria mais um lugar na seleção. Lugar pra quem? Responde para eles, Zina.

Porque craque tem que ir.

Postado por: Marcos Abrucio