Uniformes Inesquecíveis da Humanidade – 5

Era com essa beca que o Zaire, atual República Democrática do Congo, enfrentou os adversários (ou melhor, apanhou deles) na Copa de 1974:

Oh, yeah!

Foi uma Copa de grandes uniformes. Não por acaso, bem no meio da década em que todo mundo parece ter resolvido se vestir de maneira nada discreta.

Década das roupas espalhafatosas, cheias de “personalidade”. Das cores berrantes, das estampas malucas, da moda das ruas, do estilo Black Power. Também a década em que a roupa de “jogar bola” ou de “fazer Cooper”, virou “fashion”, olha só.

Por tudo isso, nenhuma camiseta foi tão anos 70 quanto essa.

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O Zaire foi o primeiro país da África Negra a participar de uma Copa. A classificação rendeu aos jogadores uma promessa do ditador Mobuto Sese Seko de que ganhariam casa e carro zero.

Só que a chuva na horta durou pouco. Os zairenses fizeram feio na Copa — com exceção do uniforme, claro. Não marcaram nenhum gol e levaram 14 em três jogos. Mas isso não foi o pior.

Baile nos Leopardos.

Depois da estréia, derrota por 2 a 0 para a Escócia, os jogadores africanos ficaram sabendo que não ganhariam mais seus mimos. Recusaram-se então a entrar em campo na partida seguinte, contra a Iugoslávia. Para evitar um vexame internacional, Mobuto mandou avisar que pagaria os atletas. Mesmo desconfiados e desmotivados, eles foram para o jogo.

Melhor seria ter ficado em casa. O jogo terminou 9 a 0 para os iugoslavos. Um vexame internacional. Depois do terceiro gol, ainda no primeiro tempo, o técnico (iugoslavo!) do Zaire, Blagoje Vidinic. trocou o goleiro. Ninguém entendeu direito, e a primeira coisa que o reserva fez foi buscar a bola no fundo da rede — ele nem tocara na bola e já tinha levado um gol.

Muitos anos depois, o técnico contou que um representante do Ministério dos Esportes do Zaire bateu no seu ombro e ordenou a troca. Pelo bem da sua integridade física, ele obedeceu.

Há quem diga que os africanos amoleceram naquele jogo. A verdade é que o moral dos jogadores, que já não eram lá essas coisas, bateu lá embaixo. Estavam pressionados e sem nenhuma perspectiva de ganhar nada além da humilhação pública. Daí, a surra. Mas isso não foi o pior.

(Bola no fundo da rede) x 9.

Depois da partida, Mobuto gentilmente enviou a guarda presidencial aos vestiários para dar o recado ao pé do ouvido: se os jogadores levassem quatro do Brasil, na última rodada, não voltariam vivos para casa.

Mui sabiamente, o time se esforçou ao máximo contra o Brasil. E, ufa, perdeu só de 3 a 0. Mas teve uma coisa esquisita nesse placar: os brasileiros precisavam justamente de três gols de diferença para se classificarem. Hmm…

Estando bom para ambas as partes, os brasileiros passaram de fase, e os zairenses voltaram pra casa. Vivos.

Mas nada disso foi o pior. Nem mesmo o frangaço que o goleiro Muamba (Muamba!) Kazadi engoliu (depois de ter defendido tudo no primeiro tempo) e acabou classificando o Brasil. Não. O pior é que os jogadores do Zaire não sabiam nem formar uma barreira!

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Mas o uniforme, ah, esse sim, era bacana.

A segunda pele de um Leopardo.

Mais simples, impossível: brasão, nome do pais, colarinho de filme do Burt Reynolds e só. Ao mesmo tempo, marcante: você já viu um distintivo desse tamanho?

E que distintivo: um leopardo, símbolo do time, atacando a coitada de uma bola. Coisa linda. Tanto que as réplicas da camisa fazem sucesso até hoje entre os amantes dos fardamentos “vintage”, ui.

Ah, e tinha também a versão em amarelo:

Nice!

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Sobre o lance da falta, vale uma explicação. Sim, existe uma explicação para aquela maluquice. E não é o completo desconhecimento da regra.

Naquele momento do jogo, o placar já era de 3 a 0. O brasileiros já estavam classificados. Já os zairenses, se sofressem mais um gol, perderiam a cabeça. Literalmente.

Aí o juiz marca uma falta frontal para o Brasil, então campeão do mundo. Quem vai bater é Rivellino, um dos melhores cobradores de falta de todos os tempos. O que você faria se estivesse na barreira?

Ilunga Mwepu pirou. Saiu correndo e enfiou a bicuda. Há alguns anos revelou que o lance foi mais um reflexo da pressão que os zairenses estavam sofrendo:

“I panicked and kicked the ball away before he (Rivelino) had taken it. “Most of the Brazil players, and the crowd too, thought it was hilarious. I shouted, ‘You bastards!’ at them because they didn’t understand the pressure we were under.”

Mwepu era o jaqueta 2.

Tudo bem, vai, está perdoado. Mas se você não conseguiu parar de rir da cena até agora, não se preocupe. Até Mwepu já fez graça com ela:

Postado por: Marcos Abrucio

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Ver também: Uniformes Inesquecíveis da Humanidade 1 (Alemanha – 90), 2 (Brasil – 70), 3 (França/Kimberley – 78) e 4 (Cruyff – 74).

2 Respostas para “Uniformes Inesquecíveis da Humanidade – 5

  1. Aos copawriters, meus cumprimentos. Adorei a vossa página, que desconhecia ainda, e a linkei no meu Feijão Preto (http://mauricionegro.blogspot.com/) para engrossar o caldo brasileiro. Ao meu parceiro olímpico Marcos Abrucio, um abraço de tamanduá!

  2. Paulo Gallardi

    Claro que o uniforme do Zaire era bacana, era Verde.

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