“A defesa portenha é frágil, o técnico é instável e Messi ainda não mostrou a que veio.” – post do Copawriters de 25 de junho
Bastaram três minutos para a Alemanha expor a fragilidade da defesa argentina
Argentina fora da Copa. Se alguém se assustou com o placar elástico, não viu os jogos da Alemanha antes das quartas de final. E se alguém se surpreendeu com a desclassificação portenha, não viu as atuações da seleção comandada por Maradona antes e durante a Copa.
"Tchau, Maradona!"
Eu já havia dito que os especialistas apontavam a Argentina como favorita ao título. Talvez por se encantarem com os resultados do time de Messi na primeira fase. Já sul-africanos, mexicanos e torcedores de outros países que encontrei em Joanesburgo não apostavam tão alto na albiceleste. A verdade é que, nesta Copa, as forças são equivalentes e não há um time de futebol incontestável.
Argentina x Coreia do Sul: mesmo após a goleada, o futebol dos hermanos nunca me enganou...
Após assistir ao jogo dos hermanos contra a Coreia, no Soccer City, e ler as análises de jornalistas brasileiros, o que me causou estranheza foi a supervalorização do futebol apresentado por nossos maiores rivais e, principalmente, das atuações de Lionel Messi. Incrível como havia paciência com a falta de gols do argentino. Teve boas atuações na Copa? Sim. Mostrou raça, vontade? Muita. Foi um jogador decisivo para a Argentina? Não.
Messi: retrato da decepção argentina
“Messi não chega a ser uma decepção. Mas falta alguma coisa…” – comentarista do SporTV, antes da partida contra a Alemanha
“Decepção em jogo decisivo, Messi recebe a defesa de Diego Maradona” – site Globo.com, após a eliminação
“Maradona se puso otra vez más en manos de Messi y el mejor jugador del mundo no apareció. Se fueron entre lágrimas.” – site espanhol Marca.com
“Sin goles ni gloria. Messi fue de mayor a menor y se despidió del Mundial sin poder convertir un gol…” – jornal argentino Olé
Mas e a pergunta que não quer calar: a culpa pelo fracasso portenho é de Messi? Claro que não. A campanha de Maradona à frente da seleção argentina foi cheia de altos e baixos. O time nunca teve padrão de jogo. Antes da Copa, as vitórias vieram na raça, mas também ocorreram derrotas históricas. A classificação para o Mundial foi confirmada apenas no último jogo das eliminatórias. O povo pedia a saída de El Diez. Sua lista dos 23 convocados para a Copa foi muito contestada. Mas a AFA bancou seu treinador e só restou ao povo argentino apoiar cegamente sua seleção – enredo muito familiar aos brasileiros.
Que decadência: na Copa de 2010, Maradona foi equivalente a um Dunga
Os argentinos encheram os estádios sul-africanos com alegria e esperança. Vibraram nas quatro vitórias seguidas e ignoraram as falhas defensivas e a falta de brilho de Messi – quem já o viu decidindo jogos para o Barcelona sabe que ele é capaz de fazer mais do que fez nesta Copa.
Torcida argentina na Copa: que beleza!
Em campo, a Argentina – assim como o Brasil – buscava reverter o peso de contar com um treinador inexperiente e um camisa 10 longe das suas melhores atuações. Dava para confiar em um time assim? Os iludidos argentinos – e também os brasileiros – descobriram, após as quartas de final, que não.
Capa do jornal Olé antes do mundial: Maradona ou Nostradamus?
Não houve partidas épicas nem grandes clássicos até agora na Copa. Emoção mesmo, só em Itália 2 x 3 Eslováquia. Os times ainda mostram que estão em fase de evolução, mas grande parte da imprensa e da torcida já escolheu o mais forte candidato ao título: o time da Argentina.
Favoritos em campo. Favoritos?
Os hermanos conseguiram três vitórias incontestáveis. Sofreram apenas no jogo com a Nigéria – mais pelos gols desperdiçados do que pela força do time africano. O técnico-deus deles, Maradona, levou seis atacantes para a África do Sul e o esquema é extremamente ofensivo. Além disso, o melhor jogador do mundo atualmente veste a camisa 10 portenha. Alguém consegue apostar contra? Sim.
Precisa de um alfaiate aí, Maradona?
A Argentina venceu bem, é verdade. Mas até agora não teve adversários à altura – o Brasil também não, mas essa é outra discussão. Contra a fraquíssima Coreia do Sul, no Soccer City, tomou susto antes de impor a goleada. Mais motivos para duvidar do prognóstico dos especialistas: a defesa portenha é frágil, o técnico é instável e Messi ainda não mostrou a que veio. Fora a clara preocupação deles com o Brasil, já que Verón e Maradona não param de citar, ou melhor, cutucar os brasileiros nas entrevistas.
E não é que o Messi tava em campo?
Pode parecer que só nós, brasileiros, desdenhamos a força argentina. Mas o que realmente chama a atenção em Joanesburgo é a confiança que os sul-africanos têm de que o Brasil vai levantar a taça. Apesar de não entenderem a ausência de Ronaldinho Gaúcho, os africanos apoiam nossa seleção tanto quanto o time deles – ou até mais, já que poucos confiavam na seleção de Parreira.
Hey, brasileño, ¿qué haces acá?
Nas ruas, é fácil ouvir alguém dizendo “Brasil, nosso país torce por vocês na final!” ou “O Brasil é forte mesmo jogando mal”. Ok, também ouvi um pai dizer “Filho, torça por Brasil ou Argentina, esse times vão disputar o título!” e outro cara cantar em tom de deboche “All the single ladies” (malditos Neymar, Ganso e Robinho!). Mas até o locutor da TV sul-africana se refere à seleção canarinho como “O poderoso Brasil”. Por todo lado, há bandeiras e camisas brasileiras. A confiança está no ar.
Os bafanas realmente se sentem como brasileiros na torcida pela nossa seleção. Eles se identificam com o time que veste camisas amarelas como o time deles. No jogo contra a Coreia do Norte, até ouvi alguns sul-africanos gritando, em um mix de português-inglês, uma frase típica da torcida brasileira: “Hey, Galvón, vai tomar na c…!”.
Faixa mais educada do que os gritos que ecoavam nas arquibancadas
Bom moço, articulado, bem-apessoado, arrumadinho, limpinho e talvez até cheirosinho. Este era Leonardo, lateral-esquerdo do Brasil em 1994. Ele só deixou de ser o marido que toda mãe sonhava para sua filha quando, nas oitavas-de-final, seu cotovelo entrou feito um trem na fuça do americano Tab Ramos.
Não importa que aquele tenha sido um ato impensado, que o americano estivesse fungando no seu cangote e que nunca antes nem depois disso Leonardo tenha feito nada parecido. A cena horrorosa e a conseqüente suspensão do lateral até o final do torneio fizeram dele o vilão do Mundial.
K.O.
Muitos outros vilões já deram as caras em Copas. Em 1974, Ernst Jean-Joseph, zagueiro do Haiti, foi o primeiro jogador a cair no antidoping. Seu julgamento foi sumário: logo que o resultado do exame foi divulgado, representantes do ditador haitiano Baby Doc arrancaram o zagueiro do hotel e cobriram o cara de porrada, por ele ter “envergonhado a pátria”, “sujado o nome do pais”, ou coisa que o valha — claro que essa pena não valia para o próprio Baby Doc…
Já vimos que, em 1982, uma voadora desgovernada do goleiro alemão Harald Schumacher sobre o francês Battiston o fez ser mais odiado entre os gauleses do que Hitler. Na verdade, o posto de malfeitor daquela Copa poderia ser estendido a todo o time da Alemanha e mais o da Áustria, os co-autores da maior marmelada das Copas.
A Alemanha tinha perdido da Argélia (!) e precisava da vitória para passar de fase. 1 a 0 já estava bom. A Áustria podia perder de um gol de diferença que também se classificaria. Adivinha qual foi o resultado?
Não podemos esquecer também dos vilões nacionais. Para os ingleses, por exemplo, Diego Maradona foi um dos dois grandes escroques da Copa de 1986. O outro foi o juiz tunisiano Bin Nasser, que validou o gol de mão do argentino naquelas quartas-de-final.
Os argentinos, por sua vez, consideram o presidente da FIFA, João Havelange, o grande crápula da Copa de 1994. A raiva se justifica se a história a seguir for verdadeira.
Havelange teria autorizado Maradona, que estava (mais) balofo e vinha de uma suspensão por doping, a usar quaisquer recursos para entrar em forma. O argentino não precisaria se preocupar: incomodado com a falta de caras conhecidas do público naquele Mundial, o dirigente teria garantido que o craque não cairia no anti-doping.
Maradona ficou fininho e jogou muito na primeira fase. Mas após o jogo contra a Grécia, para a sua surpresa, ele foi convidado a deixar seu xixi num frasco. O resultado do exame apontou a presença de efedrina e outras substâncias que “agem sobre o sistema nervoso central e circulatório, com o efeito de melhorar os reflexos, aumentar a oxigenação do sangue e diminuir a sensação de fadiga”, segundo o relatório oficial.
“Cortaram minhas pernas”, disse Maradona, suspenso da Copa, que viu a Argentina ser eliminada em seguida.
Rumo ao último xixi.
Entre os brasileiros, ninguém foi tão crucificado quanto Barbosa, o goleiro da Copa de 1950. Eternamente culpado pelas falhas na final, virou sinônimo de fracasso para boa parte do público e da imprensa. Perto do que fizeram com ele, as reações ao passe errado de Toninho Cerezo, ao pênalti perdido por Zico ou ao meião de Roberto Carlos não fazem nem cócegas.
…
A atual Copa, que, ufa, melhorou muito em relação àprimeira rodada, já apresentou alguns fortes candidatos a vilão: a Jabulani, as vuvuzelas, o time inteiro da França.
(Não confundir com Delei, meia que jogou no Fluminense, Botafogo e Palmeiras.)
Ele sempre chegava atrasado nas jogadas.
Estou me refirindo ao atraso entre a programação da TV normal e a programação digital, em HD, cabo, parabólica, o diabo. São vários os níveis de atraso, dependendo da TV que você tem em casa (e as da vizinhança, claro).
Mas, em geral, o negócio é mais ou menos assim: seu vizinho, que tem TV de antena ou TV a cabo simples, grita Gooooooooooooolllll!…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
(barulhinhos de grilo)
…
…
…
…
…
…
…
…
…
E só agora, na sua casa com TV à cabo-digital-parabólica-HD-de-merda, o Galvão grita: Gooooooooooooolllll!
É um inferno que aporrinha muita gente: pela primeira vez a Copa tem transmissão digital para um numero considerável de lares. O pior de tudo é que você nunca esquece que o delay existe. Suas orelhas estão sempre em pé, prestando atenção se alguém grita lá fora.
O desastre é completo quando seu time precisa fazer um gol e tem, por exemplo, uma falta para bater na entrada da área. Você não consegue deixar de atentar à vizinhança. E se ninguém está gritando, você já sabe: por mais que o atacante esteja ajeitando a bola com carinho, ela não vai entrar.
Se na sua casa a transmissão é analógica, fique feliz. Você gasta muito menos e assiste ao jogo verdadeiramente ao vivo.
Mas se você quer se mostrar para a vizinhança, dizendo que já tem, sim, uma TV digital, uma dica: ao ver o gol do Brasil, segure o grito na garganta. Eu sei, vai ser difícil. Mas mantenha-o lá, preso, por uns cinco segundos. E aí, quando o Galvão já tiver parado de gritar, abra a janela e grite com fé: Gooooooooooooolllll!
A seleção foi muito bem no jogo contra a Costa do Marfim e o técnico, muito mal na entrevista.
O olhar ensandecido de Dunga enquanto ele balbuciava ofensas durante a coletiva foi uma das cenas mais assustadoras que eu vi na vida.
Que fique claro: o “chupa Globo” é totalmente compreensível, pelo histórico de distorções, equívocos e não-jornalismo (esportivo ou não) da emissora. É ótimo que os brasileiros comecem a ver TV de forma mais critica. Hoje há muito mais canais de informação e participação do público, e vejo isso de forma otimista: com mais gente tomando conhecimento de mais lados de mais notícias, cai a chance de manipulação.
Mas o ódio contra o plin-plin não pode justificar tudo, muito menos o comportamento demente do treinador da seleção. Ele foi mal-educado com todos que o assistiam, não só com o jornalista global. Foi burro ao se portar assim em um evento da FIFA. E foi covarde, ao murmurar suas infâmias em vez de despejá-las em alto e bom som, diretamente a quem os merecia (ou não).
Mas o pior foi aquele olhar. Olhar de vilão de filme.
Todos sabemos, no entanto, que Dunga só será um vilão de verdade se o Brasil for eliminado. Tudo que relevamos até aqui (porque o time está bem, porque ganhamos tudo até agora, porque durante a Copa a gente torce mesmo, uai) virá à tona: seu complexo de perseguição, sua inconstância, seu despreparo, sua loucura.
Tomara que não. Prefiro lembrar dele de outra maneira:
O Brasil se dividiu. Uma violenta contenda entre os defensores da Ivete Sangalo e os da Claudia Leitte transformou-se em guerra civil. O resultado da cizânia foi uma irreversível divisão. Metade da população ficou de um lado, metade do outro.
Surgiu o Brasil B.
Com bandeira, hino e presidente próprios. E uma seleção própria, também.
Fla x Flu
Graças à tradição do Brasil (doravante chamado de Brasil A), a seleção do Brasil B foi convidada a participar da Copa da África do Sul. No lugar de quem? Ora, da França, que como tinha se classificado roubado nem reclamou.
Os jogadores já convocados para o Brasil A não puderam ser chamados. O treinador do Brasil B, Mano Menezes, teve que contar com aqueles que estavam fora da lista de Dunga.
O elenco (anunciado ao vivo pela Rede Globo B) ficou assim:
Ronaldinho Gaúcho (Milan – ITA)
Alex (Fenerbahce – TUR)
Paulo Henrique Ganso (Santos)
Diego Souza (Palmeiras)
Atacantes:
Alexandre Pato (Milan – ITA)
Ronaldo (Corinthians)
Neymar (Santos)
Fred (Fluminense)
Pra frente, Brasil B!
A Copa chegou e o Brasil B foi passando pelos adversários com autoridade, apesar da defesa claudicante — Mano tentou naturalizar o Daniel Alves e o Maicon (“Um dos dois, pô!”), sem sucesso.
A falta de entrosamento do time foi superada pelo grande talento individual dos convocados. Motivado a arrebentar em sua 5a. Copa (jogando por dois países diferentes, Brasil A e Brasil B), Ronaldo adotou o corte Cascão de 2002 e chegou ao seu 20o. gol em Mundiais.
Nas semifinais, a seleção B derrotou a Argentina de Messi com um gol de mão de Pato e outro em que Ronaldinho Gaúcho saiu driblando desde o campo de defesa. Até Maradona aplaudiu.
"Que Diós te abençoe."
A grande final pôs frente à frente os Brasis, A e B.
Dunga teve os desfalques de Kaká, que sofreu a Copa toda com sua pubalgia, e Felipe Melo, expulso na semifinal contra a Espanha. Assim, a seleção A entrou em campo com Júlio Cesar, Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Gilberto Silva, Josué, Elano e Ramires; Robinho e Luis Fabiano.
Mano escalou seu time titular (no esquema 4-3-3 do Corinthians de 2009) com: Marcos, Rafinha, Miranda, Alex e Marcelo; Denílson, Hernanes e Ronaldinho Gaúcho; Neymar, Pato e Ronaldo. Lucas, Alex e Diego Souza eram as opções para deixar o time mais fechado, mais cadenciado, ou com apenas dois atacantes.
E aí, quem levava essa?
***
Como se vê, fazer uma seleção imbatível para 2010 não é tão difícil assim, vai.
Inglaterra e Brasil se enfrentam amanhã, dia 14/11. Isso me lembrou do fantástico jogo das quartas de final da Copa de 2002. Todo brasileiro que se preza acordou cedo para ver o jogo. Até meu irmão, que não liga muito para futebol.
A imprensa noticiava que os ingleses estavam confiantes na vitória. E com certeza, essa confiança aumentou com a falha de Lucio e o gol de Owen. Sorte que Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho estavam em tarde inspirada e viraram o placar. E quem se importa se o Gaúcho tentou cruzar a bola e não chutá-la no gol? Todos em casa ficaram eufóricos!
Depois dessa virada histórica, os ingleses voltaram à dura realidade: alguns tablóides estamparam fotos dos súditos da Rainha chorando. “Stop crying your heart out”, do Oasis, virou o hino da derrota britânica. Mas nada disso comoveu meu irmão: “Normalmente, tenho simpatia pela seleção inglesa. Mas dessa vez, eram eles ou nós…”.