Copawriter de Fora V: Temos um culpado, por Antonio Nogueira

Assim que aquele juiz japonês apitou o final do jogo e os jogadores de azul desceram chorando para o vestiário, os brasileiros passaram a se dedicar a uma outra questão:

Afinal, foi o Dunga que ferrou tudo ou não?

O território nacional se dividiu entre os defensores de cada lado.

Para muitos, Dunga formatou esta seleção à sua cara, e o fracasso de uma significa, inevitavelmente, o fracasso do outro. Ainda mais que ele sempre defendeu o estilo o-que-importa-é-o-resultado. Logo…

Para outros, no entanto, Dunga fez um bom trabalho. Basta batermos os olhos nos resultados da seleção em quatro anos. Além disso, ele fez exatamente o que lhe foi pedido após a derrota de 2006: “moralizou” a seleção, montou um time de “comprometidos” e conquistou resultados importantes.

Como o Copawriters é, antes de tudo, um espaço democrático (e como já coloquei minha posição aqui), abrimos um cantinho aqui para dois grandes entendedores de futebol darem sua opinião. Um afirma que Dunga foi, sim, bem-sucedido. Outro defende que a derrota da seleção muito se deve aos erros e defeitos do treinador. (Treinador? rs…)

Aqui está a visão do Copawriter convidado Antonio Nogueira. E, se quiser ver uma opinião oposta da dele, clique aqui.

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Temos um culpado

Essa temporada de caça às bruxas que se abre no Brasil cada vez que perdemos uma Copa é ridícula, inútil e desnecessária.

Nós temos sede de vingança. Temos sede de achar UM culpado. E aí, já foi o Barbosa em 50, Zagalo em 74, Cerezo em 82, Zico em 86, Dunga em 90, Ronaldo em 98. A lista é extensa. Na maioria absoluta, a análise e o julgamento são rasos. Superficiais.

As coisas não são tão simples assim. Existem sempre vários fatores, alguns até extra-campo, que influenciam um resultado, um lance, um erro. Achar que o Brasil seria campeão em 86 caso o Zico guardasse aquele pênalti contra a França é de um simplismo pueril, só para ficar em um único exemplo.

Mas estamos diante de uma exceção.

Nessa Copa de 2010, nem é preciso procurar muito para achar um culpado, de tão óbvio que ele é.

Seu nome é Carlos Caetano.

Evidentemente.

Porque o que me irrita não é perder. Perder ou ganhar faz parte do jogo. Temos que nos acostumar com isso (nós brasileiros normalmente esquecemos esse detalhe).

O que me irrita é perder pelos motivos que todo mundo cantou antes da Copa.

Quantos e quantos cronistas esportivos falaram em uma provável expulsão do Felipe Melo em um jogo decisivo?

Quantos e quantos cronistas esportivos, redatores publicitários, médicos e vendedores de enciclopédia alertaram para a falta de talentos no banco de reservas?

Concordo que o Brasil não vive lá sua melhor safra de jogadores. Não temos um super-craque. Mas o Dunga, em nome de um vago “comprometimento”, abdicou de alguns caras que poderiam mudar um resultado adverso para abraçar (e morrer abraçado com) um grupo de qualidade duvidosa.

Exemplos? Ronaldinho Gaúcho. Mesmo não tendo lá um grande histórico na seleção, é um cara que poderia entrar aos 30 do 2º tempo e mudar um jogo. O Ganso, idem (esse tinha que ter ido até pra pegar vivência de Copa). Até o cachaceiro do Adriano poderia entrar na hora do abafa pra tentar fazer um gol de canela. Qual defesa do mundo não teme o Adriano?

Mas não. Carlos Caetano preferiu seus mini-dungas Josué, Kleberson, Julio Batista, Grafite. Dedicados porém incapazes de mudar um jogo, incapazes de assustar a defesa “dos alemão”.

O Brasil perdeu em parte por isso e em parte pelo desequilíbrio emocional do time. Desequilíbrio que começou a aparecer quando o bom-moço Kaká foi expulso.

Depois do 1º gol holandês, quando o jogo ainda tava na nossa mão (aquele gol de empate deles foi um acidente), o time desmoronou emocionalmente. Até o risonho Robinho exibia uma expressão facial de guerreiro espartano.

Esse desequilíbrio vem de onde? Do banco. Onde, aos 30 do 1º tempo, com seu time vencendo e jogando bonito, Carlos Caetano esmurrava a proteção do banco de reservas enfurecidamente.

Qualquer trainee de RH sabe: toda equipe é a cara do chefe. Chefe bem-humorado, equipe bem-humorada. Chefe estressado, equipe estressada. Chefe louco-furioso-vociferando-contra-todos-e-encarando-a-Copa-como-uma-guerra-pessoal-dele-contra-o-mundo, equipe idem.

Carlos Caetano confunde garra com raiva. Determinação com ódio. Vontade de vencer com vontade de mandar todo mundo tomar no !@#$%&*. Quem não se lembra dele levantando a taça em 94 e, ao invés de curtir, xingar a tudo e a todos?

Está claro que esse desequilíbrio do comandante desestabilizou a equipe. Que, na primeira vez que pegou um adversário de qualidade e tomou um gol de empate, espanou. Não aguentou a pressão. Não a pressão da Holanda, que não houve. Mas a pressão interna, psicológica, emocional, enfim, muito mais letal.

Então, vamos juntar as pontas: quem convocou e bancou Felipe Melo? Quem deixou bons jogadores de fora pra levar outros de talento duvidoso e ficar sem opção no banco? Quem passou desequilíbrio e falta de bom senso ao grupo?

Pois é.

Tá fácil achar o responsável, né?

Mas pensando bem, a culpa nem é dele.

Desculpa, Carlos Caetano.

A culpa não é sua.

A culpa é do sr. Ricardo Teixeira, que contratou para o cargo mais importante do futebol uma pessoa bronca, teimosa e despreparada como você.


6 Respostas para “Copawriter de Fora V: Temos um culpado, por Antonio Nogueira

  1. Pingback: Copawriter de Fora IV: Em futebol se ganha, se perde e se empata, por Antero Neto « Copawriters

  2. não concordo

  3. O Antero Neto, além de ser melhor com as palavras, tem uma visão muito mais realista do que é o futebol.

  4. Parabéns, Mega, por se lembrar do verdadeiro vilão do futebol brasileiro, esquecido por muitos: o presidente vitalício da CBF.

    Aliás, fora Ricardo Teixeira: http://colunistas.ig.com.br/copa2010flaviogomes/2010/07/05/derrubem-o-presidente/

  5. Ao contrário do que ocorreu com o texto do Antero, eu relutei contra o início do seu, mas terminei aplaudindo.

    A parte da imagem e semelhança é matadora.

  6. Pingback: A mensagem é o meio « Copawriters

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