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No lucro

Chico, é você?

Para nós, torcedores brasileiros, vai ser lindo. A Copa de 2014 será no nosso quintal — aliás, se você mora em São Paulo e tem um quintal maiorzinho, avise a FIFA e a CBF: elas ainda estão procurando um lugar para abrigar os jogos na capital paulista… Tsc, tsc, tsc.

Agora, para nós, cidadãos brasileiros… É bom não esperar grandes benesses. Nem estou falando de eventuais desvios, superfaturamentos, estouros de orçamento e outras modalidades de roubalheira do nosso dinheiro. É que, ao contrário do que cartolas e governantes sempre juraram, uma Copa do Mundo talvez nunca consiga dar lucros a quem a sedia.

preju.

A tese é de Simon Kuper e Stefan Szymanski, autores do livro “Soccernomics”, obra que cruza dados, cifras e estatísticas para enxergar de maneira mais esperta o mundo do futebol — lembrou de “Freakonomics”? Na mosca.

O subtítulo é curtinho, não?

Sempre se espera que uma Copa (ou uma Olimpíada) traga melhorias na infraestrutura do país-sede, no seu sistema de transportes, na rede hoteleira, nos índices de emprego, no número de turistas, na imagem perante o mundo. Há ainda a lembrança de Barcelona, que aproveitou a Olimpíada de 1992 para recuperar partes decadentes da cidade e subir no ranking dos maiores destinos turísticos do mundo.

Só que os dois jornalistas fizeram as contas e concluíram que os gastos exigidos pela FIFA (ou pelo COI) são tão gigantescos que o país sempre sai perdendo.

O roteiro se repete: os cartolas querem do pobre país-sede (no nosso caso, pobre mesmo) isenções de impostos, obras viárias gigantescas, uma grande quantidade de vagas em hotéis de luxo, novos aeroportos e, claro, novos estádios, mesmo quando há no local outros em condições de sediar os jogos (alguém aí falou “Morumbi”?).

Tudo isso é muito, muito caro. E, no fim, acaba saindo ainda mais caro: orçamentos iniciais ingênuos ou mal-intencionados normalmente estouram — graças a atrasos, imprevistos, regimes de urgência urgentíssima ou simplesmente quando entram em contato com a realidade.

Assim, a grana que entra não cobre a que sai. Sem contar que o número de turistas muitas vezes é superestimado, os empregos gerados pelo evento são, em sua maioria, temporários e muitas das caríssimas obras viram elefantes brancos. Mais: há quem diga que Barcelona iria se reerguer de qualquer jeito, com ou sem Olimpíada…

Desastre total? Calma, também não é assim. Abrigar uma Copa também tem seus pontos positivos. Entre eles, o impacto que uma competição mundial provoca na auto-estima dos habitantes que a recebem. E também a propaganda planetária que ela faz do país.

Um comercial de 30 dias de duração.” Foi assim que uma dirigente de uma província sul-africana encarou a Copa 2010 quando percebeu que os benefícios econômicos diretos esperados pelo país simplesmente não chegariam. Para os sul-africanos, o jeito será tentar tirar o prejuízo a longo prazo, com os turistas que chegarão no futuro, incentivados pelo que viram na TV no último mês.

A Copa da África do Sul ficou no vermelho nas finanças. E nos campos?

***

É consenso que a seleção brasileira ficou devendo. Mas, para mim, a Copa de 2010 como um todo deixou os apreciadores do futebol no lucro.

E sei que essa opinião não é nenhum consenso.

(Do UOL) Insira aqui sua piada com "futebol-arte"e "arte marcial".

“Que Copinha, hein?” foi uma das frases que mais ouvi no último mês, só atrás de “Ah, Larissa Riquelme…”. Até o Rojas, meu nobre colega aqui no Copawriters, afirmou que a Copa foi morna.

Desculpe, galera, desculpe, Rojas. Mas eu gostei desta Copa. Bastante, aliás. Sim, eu sei que a média de gols foi baixa. Que teve 1 a 0 pra todo lado, que a Espanha não chutava pro gol, que raiva que dava! Sei que os craques chegaram baleados à Copa, que com 32 países a Copa tem muito time ruim.

Mas é que eu meço uma Copa do Mundo de outra forma: pela taquicardia que ela provoca; pelos jogos eletrizantes que ela proporciona.

Nem vou lembrar das Copas no México, em 70 e 86, com tantos jogos inesquecíveis que muita gente séria chegou a propor que todo Mundial deveria ser realizado em solo mexicano… Não, seria covardia. Lembremos de 1994, no EUA. Aquela Copa foi grande, entre muitas outras razões, pelos grandes jogos que ali ocorreram. Sem nenhum esforço, vem à cabeça Brasil x Holanda, Romênia x Argentina, Suécia x Romênia, Itália x Nigéria, Itália x Bulgária… até Arábia Saudita x Bélgica foi legal.

Por outro lado, 2006 foi modorrenta pela falta de futebol e também pela falta de suor no sovaco do torcedor. Jogaço mesmo, só um: a semi entre Itália e Alemanha:

Reconheço que muitos jogos de 2010 tiveram nível mais baixo que as coletivas do Dunga. Mas mesmo algumas peladas fizeram o mais contido dos torcedores se exaltar.

Por exemplo, EUA x Argélia, com o gol da classificação americana no último minuto e uma explosão da torcida ianque como nunca se viu:

Espanha x Paraguai também poderia ter sido na Rua Javari, mas a seqüência de pênaltis perdidos e o gol chorado da Espanha fizeram a adrenalina (naftalina, segundo o Jardel) bater no teto.

Os minutos finais de Itália x Eslováquia foram de arrepiar. Naqueles parcos momentos, os italianos resolveram jogar tudo que não tinham jogado em, sei lá, 4 anos. Levavam de 2 a 0, chegaram a descontar, mas levaram outro gol e, mesmo com a pressão e mais um gol nos acréscimos, acabaram dando arrivederci ao penta. 3 x 2 Eslováquia:

E essas foram as peladas. Não podemos esquecer também dos cinco jogos realmente bons da Copa, já listados pelo Flavio: Alemanha x Inglaterra, Alemanha x Argentina, Holanda x Uruguai, Alemanha x Uruguai e, claro, Uruguai x Gana.

Neste último, vimos uma sucessão de eventos que já virou um dos momentos mais catárticos da história das Copas:

A cabeçada ganesa no último minuto da prorrogação, a defesa de Suárez na linha, a lembrança de que, ei, o Suarez é centroavante, não goleiro!, o pênalti marcado e a expulsão de Suárez, a cobrança do penal já nos acréscimos, enquanto Suarez marchava desolado para o vestiário, a chute de Gyan, o craque de Gana, na trave, o choro de Suárez transformado em êxtase, o beijo na trave do goleiro Muslera, o apito final, a decisão por pênaltis, a cavadinha de Loco Abreu, a volta do Urugual às semifinais depois de 40 anos.

Amém.

Daria um livro.

Uma Copa que proporciona cenas como essas não pode ser fraca, morna, Copinha.

Copona, galera.

***

Espera aí. Não falamos aqui que o Copawriters existiria apenas durante a “Época de Copa”, que vai da hora em que o Brasil se classifica para o Mundial até “os garis varrerem os papéis picados da comemoração do último jogo”?

Pois é, as ruas já estão limpas. “Vuvuzela” e “Jabulani” são termos fadados ao desuso. O polvo Paul e a Larissa Riquelme contam os últimos segundos dos seus 15 minutos de fama (corre, Playboy). E o Copawriters continua aqui.

É que foi muito legal escrever nesse espaço. A Copa é o momento mais bacana do esporte que mais gostamos. O evento que gera a época mais legal que existe acumula um estoque quase infinito de lembranças pessoais, histórias e imagens fantásticas.

Daria para a gente continuar escrevendo sobre isso para sempre… Que seja assim, então.

Ei, e tem outra: o Brasil, claro, está classificado para a próxima Copa. Logo, tecnicamente, já começou outra Época de Copa. Logo, o Copawriters continua na ativa.

As atualizações talvez não sejam tão frequentes. Mas estaremos sempre por aqui, desenterrando histórias esquecidas e inesquecíveis das Copas passadas e contando os minutos para a próxima.

Copawriters, agora em definitivo.

Postado por: Marcos Abrucio

Vilões

Bom moço, articulado, bem-apessoado, arrumadinho, limpinho e talvez até cheirosinho. Este era Leonardo, lateral-esquerdo do Brasil em 1994. Ele só deixou de ser o marido que toda mãe sonhava para sua filha quando, nas oitavas-de-final, seu cotovelo entrou feito um trem na fuça do americano Tab Ramos.

Não importa que aquele tenha sido um ato impensado, que o americano estivesse fungando no seu cangote e que nunca antes nem depois disso Leonardo tenha feito nada parecido. A cena horrorosa e a conseqüente suspensão do lateral até o final do torneio fizeram dele o vilão do Mundial.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10.

K.O.

Muitos outros vilões já deram as caras em Copas. Em 1974, Ernst Jean-Joseph, zagueiro do Haiti, foi o primeiro jogador a cair no antidoping. Seu julgamento foi sumário: logo que o resultado do exame foi divulgado, representantes do ditador haitiano Baby Doc arrancaram o zagueiro do hotel e cobriram o cara de porrada, por ele ter “envergonhado a pátria”, “sujado o nome do pais”, ou coisa que o valha — claro que essa pena não valia para o próprio Baby Doc

Já vimos que, em 1982, uma voadora desgovernada do goleiro alemão Harald Schumacher sobre o francês Battiston o fez ser mais odiado entre os gauleses do que Hitler. Na verdade, o posto de malfeitor daquela Copa poderia ser estendido a todo o time da Alemanha e mais o da Áustria, os co-autores da maior marmelada das Copas.

A Alemanha tinha perdido da Argélia (!) e precisava da vitória para passar de fase. 1 a 0 já estava bom. A Áustria podia perder de um gol de diferença que também se classificaria. Adivinha qual foi o resultado?

Não podemos esquecer também dos vilões nacionais. Para os ingleses, por exemplo, Diego Maradona foi um dos dois grandes escroques da Copa de 1986. O outro foi o juiz tunisiano Bin Nasser, que validou o gol de mão do argentino naquelas quartas-de-final.

Os argentinos, por sua vez, consideram o presidente da FIFA, João Havelange, o grande crápula da Copa de 1994. A raiva se justifica se a história a seguir for verdadeira.

Havelange teria autorizado Maradona, que estava (mais) balofo e vinha de uma suspensão por doping, a usar quaisquer recursos para entrar em forma. O argentino não precisaria se preocupar: incomodado com a falta de caras conhecidas do público naquele Mundial, o dirigente teria garantido que o craque não cairia no anti-doping.

Maradona ficou fininho e jogou muito na primeira fase. Mas após o jogo contra a Grécia, para a sua surpresa, ele foi convidado a deixar seu xixi num frasco. O resultado do exame apontou a presença de efedrina e outras substâncias que “agem sobre o sistema nervoso central e circulatório, com o efeito de melhorar os reflexos, aumentar a oxigenação do sangue e diminuir a sensação de fadiga”, segundo o relatório oficial.

“Cortaram minhas pernas”, disse Maradona, suspenso da Copa, que viu a Argentina ser eliminada em seguida.

Maradona xixi

Rumo ao último xixi.

Entre os brasileiros, ninguém foi tão crucificado quanto Barbosa, o goleiro da Copa de 1950. Eternamente culpado pelas falhas na final, virou sinônimo de fracasso para boa parte do público e da imprensa. Perto do que fizeram com ele, as reações ao passe errado de Toninho Cerezo, ao pênalti perdido por Zico ou ao meião de Roberto Carlos não fazem nem cócegas.

A atual Copa, que, ufa, melhorou muito em relação à primeira rodada, já apresentou alguns fortes candidatos a vilão: a Jabulani, as vuvuzelas, o time inteiro da França.

Para mim, no entanto, ninguém ganha do delay.

(Não confundir com Delei, meia que jogou no Fluminense, Botafogo e Palmeiras.)

Delei

Ele sempre chegava atrasado nas jogadas.

Estou me refirindo ao atraso entre a programação da TV normal e a programação digital, em HD, cabo, parabólica, o diabo. São vários os níveis de atraso, dependendo da TV que você tem em casa (e as da vizinhança, claro).

Mas, em geral, o negócio é mais ou menos assim: seu vizinho, que tem TV de antena ou TV a cabo simples, grita Gooooooooooooolllll!

(barulhinhos de grilo)

E só agora, na sua casa com TV à cabo-digital-parabólica-HD-de-merda, o Galvão grita: Gooooooooooooolllll!

É um inferno que aporrinha muita gente: pela primeira vez a Copa tem transmissão digital para um  numero considerável de lares. O pior de tudo é que você nunca esquece que o delay existe. Suas orelhas estão sempre em pé, prestando atenção se alguém grita lá fora.

O desastre é completo quando seu time precisa fazer um gol e tem, por exemplo, uma falta para bater na entrada da área. Você não consegue deixar de atentar à vizinhança. E se ninguém está gritando, você já sabe: por mais que o atacante esteja ajeitando a bola com carinho, ela não vai entrar.

Se na sua casa a transmissão é analógica, fique feliz. Você gasta muito menos e assiste ao jogo verdadeiramente ao vivo.

Mas se você quer se mostrar para a vizinhança, dizendo que já tem, sim, uma TV digital, uma dica: ao ver o gol do Brasil, segure o grito na garganta. Eu sei, vai ser difícil. Mas mantenha-o lá, preso, por uns cinco segundos. E aí, quando o Galvão já tiver parado de gritar, abra a janela e grite com fé: Gooooooooooooolllll!

(Uma dica bem melhor está aqui.)

***

A seleção foi muito bem no jogo contra a Costa do Marfim e o técnico, muito mal na entrevista.

O olhar ensandecido de Dunga enquanto ele balbuciava ofensas durante a coletiva foi uma das cenas mais assustadoras que eu vi na vida.

Que fique claro: o “chupa Globo” é totalmente compreensível, pelo histórico de distorções, equívocos e não-jornalismo (esportivo ou não) da emissora. É ótimo que os brasileiros comecem a ver TV de forma mais critica. Hoje há muito mais canais de informação e participação do público, e vejo isso de forma otimista: com mais gente tomando conhecimento de mais lados de mais notícias, cai a chance de manipulação.

Mas o ódio contra o plin-plin não pode justificar tudo, muito menos o comportamento demente do treinador da seleção. Ele foi mal-educado com todos que o assistiam, não só com o jornalista global. Foi burro ao se portar assim em um evento da FIFA. E foi covarde, ao murmurar suas infâmias em vez de despejá-las em alto e bom som, diretamente a quem os merecia (ou não).

Mas o pior foi aquele olhar. Olhar de vilão de filme.

Todos sabemos, no entanto, que Dunga só será um vilão de verdade se o Brasil for eliminado. Tudo que relevamos até aqui (porque o time está bem, porque ganhamos tudo até agora, porque durante a Copa a gente torce mesmo, uai) virá à tona: seu complexo de perseguição, sua inconstância, seu despreparo, sua loucura.

Tomara que não. Prefiro lembrar dele de outra maneira:

Postado por: Marcos Abrucio

Blame Jabulani

Glu

Green Chicken.

Após os primeiros jogos da Copa, duas coisas já ficaram bem claras.

A primeira é que os jogadores estão realmente penando com a nova bola. Não era chororô. Parece que a jaburu faz mesmo uma “segunda curva”, mas só quando ela quer.

Os atacantes já carimbaram algumas vezes a Lua, e dois goleiros (Green, da Inglaterra e Chaouchi, da Argélia) já levaram frangaços — embora no caso destes últimos a bola tenha sido menos culpada do que a ruindade deles.

Outra constatação gritante é a minha total incapacidade de acertar um resultado sequer no bolão da Copa.

Botei 2 a 1 para o México na primeira partida. Os mexicanos vinham bem, ganharam da Itália na semana passada. Depois, me arrependi. Fiquei com dó da África do Sul. Pô, os caras são legais, pensei. Chegaram cantando no estádio. O Mandela perdeu a bisneta, que sacanagem. Vamulá, Bafana Bafana, vocês merecem!

Descobri nesse momento que não consigo apostar contra quem eu torço.

Ai tentei trocar o meu palpite inicial por outro, talvez um 1 a 1, ia ficar bom pra todo mundo. Mas era tarde demais, o jogo já ia começar. Resultado final: 1 a 1.

Apostando no Ribéry, cravei a vitória da França sobre o Uruguai. Foi 0 a 0. Que foi o que eu coloquei em Coréia do Sul x Grécia. Vitória dos coreanos. Acertei a vitória da Argentina, mas errei o placar: foi 1 a 0, e não 3 a 1, porra, Enyeama.

Enyeama

Messi foi bem, mas vai sonhar com ele.

Confiei no Rooney, mas a Inglaterra não passou do empate contra os EUA. Porra, Green. Eslovênia e Argélia tinham tudo para ser o 0 a 0 mais feio da Copa. Foi feio, mas no fim o tal Chaochi mandou o peru para dentro (opa).

Gana vinha de 3 derrotas no pré-Copa. Apostei na Sérvia. Gana ganhou. Acertei a vitória da Alemanha, mas não por quatro gols, Porra, Podolski, Klose, Muller e Cacau.

Pelada

Lance de Alemanha e Austrália.

Todos esses desencontros e a minha classificação no bolão (23o. entre 26 pessoas) indicam obviamente uma coisa:

A culpa é da Jabulani.

Postado por Marcos Abrucio

A Alemanha passa por cima

Alemanha na semifinal? Oba, jogaço à vista. Foi assim em 1970 e em 2006, contra a Itália. E igualmente palpitante foi a partida contra a França, pela Copa de 1982.

Um embate memorável por vários motivos. Pelo futebol vistoso de Platini, que comandou a reação francesa. Pela prorrogação com quatro gols. Pela intervenção messiânica de Rummenigge. Pelo gol de bicicleta no final. Pela primeira decisão por pênaltis da história das Copas.

Mas não adianta. Todo mundo se lembra desse jogo por causa dessa cacetada:

Os alemães repetiam naquela Copa o seu desempenho quadrienal típico: sempre aos trancos e barrancos, mas sempre chegando. Perderam na estréia para a Argélia e só foram à segunda fase graças a uma marmelada no jogo contra a Áustria (em uma só frase, temas para dois outros posts…).

Para a semifinal, tinham um problemão: Karl-Heinz Rummenigge, o craque do time, estava machucado, e seria mantido no banco para entrar apenas em caso de extrema necessidade.

Já a França era o time que, tirando o Brasil, desfilava o futebol mais bonito do Mundial. A geração de Platini, Rocheteau e Trésor tinha amadurecido bastante depois do fracasso de quatro anos antes (e ainda se tornariam os campeões europeus de 1984).

Só que a Alemanha nunca ligou muito para essa história de futebol bonito. Aos 17 minutos, Littbarski abriu a contagem para os germânicos. Dez minutos depois, pênalti para a França. Platini empatou, 1 a 1.

Aos 20 minutos do segundo tempo, Platini sutilmente coloca o zagueiro Battiston, que acabara de entrar, na cara do goleiro Herald Schumacher. O arqueiro esquece a bola, sobe na sobreloja e sutilmente quebra a cara de Battiston.

O juiz apita na hora. Só que apita tiro de meta, para revolta dos franceses.

Schumacher abalroa Damon Hill. Não, Battiston!

Battiston jaz no gramado, inconsciente. Os azuis cercam o colega e entram em desespero. Platini chega a pensar que ele tinha morrido. Mas Battiston “só” teve uma concussão, uma lesão cervical e alguns dentes perdidos (de dois a quatro, dependendo da fonte e do dentista).

Enquanto isso, Schumacher alongava-se e esperava para bater o tiro de meta…

O tempo normal se encerrou nesse clima gostoso de fraternidade. Para vingar o parceiro ferido, os franceses partiram para cima logo no começo da prorrogação. Aos 3 minutos, Trésor faz, de virada, um golaço. França, de virada, 2 a 1.

Era, definitivamente, um caso de extrema necessidade. E Rummenigge, mesmo vetado pelos médicos, foi a campo. No entanto, antes que ele pudesse tocar na bola, Giresse ampliou para os franceses: 3 a 1.

Aos 12 minutos, na sua primeira jogada, Rummenigge divide com o goleiro e um zagueiro e diminui: 3 a 2. A Alemanha se enche de brios, o que, em Copas do Mundo, nunca é boa notícia para o adversário. Aos 3 minutos da etapa final, Fischer empata lindamente, de bicicleta. Quem disse que alemão não liga para futebol bonito?

Fim de jogo, 3 a 3. Pela primeira vez, uma partida de Copa do Mundo seria decidida nos pênaltis. Giresse, Amoros e Rocheteau convertem as primeiras cobranças para a França. Kaltz e Breitner acertam seus chutes para a Alemanha. Já a bola de Stielike vai para as mãos do goleiro francês Ettori.

O libero alemão, um dos melhores em campo no tempo normal, se ajoelha e chora. Amparado pelos companheiros, nem vê que Schumacher defende o pênalti seguinte, de Six.

Os brutos também choram.

Em seguida, Littbarski marca e deixa tudo igual. Os craques Platini, de um lado, e Rummenigge, do outro, encerram a série de cobranças. 4 a 4.

Nas cobranças alternadas, Schumacher decide que ele, e mais ninguém, seria o protagonista daquele jogo. Ele defende mais um pênalti, de Bossis. Hrubesch faz o dele e bota ponto final naquele drama: 5 a 4.

A Alemanha estava na final. Os franceses, a despeito de todo o seu talento, voltavam para casa mais cedo de novo.

Logo após a partida, uma revista francesa perguntou aos leitores quem era a pessoa mais odiável de todos os tempos. Os vencedores foram dois alemães. Adolf Hitler foi o segundo. Harold “The Ripper” Schumacher foi o primeiro.

Veja outro jogaço aqui.

Postado por: Marcos Abrucio

O melhor e o pior dos mundos

Saiu agora a formação dos “potes” para o sorteio dos grupos da Copa. Veja aqui.

A maior notícia é a França, vice-campeã mundial e comedora de brasileiros, não ser cabeça-de-chave. Mas como o critério para a divisão dos “potes” (adoro “potes”, parece o sorteio de um torneio de várzea feito num pote de açúcar da tia de alguém) foi o ranking da FIFA, em que a França está mais atrás, nada de muito injusto. E do jeito que eles se classificaram para a Copa, não podem reclamar de nada!

Pelo que entendi, dependendo do que a Charlize Theron tirar no sorteio (tomara que a roupa), o Brasil pode cair num grupo assim:

Brasil
França
Paraguai
México 

Ai. Ou então nesse grupo:

Brasil
Portugal
Uruguai
EUA

Em compensação, pode cair nesse aqui:

Brasil
Nova Zelândia
Argélia
Eslovênia

Tem gente que torce para enfrentarmos alguém forte logo de cara, para dar uma chacoalhada. Já eu acho que um pouquinho de sorte (e um grupo como esse último) não faz mal a ninguém.

Enfim, na sexta vamos ver se o nosso grupo está mais perto do céu ou do inferno. Ah, claro, e torcer pra Argentina cair no grupo da morte! 

Facilita aí, Charlize.

 

UPDATE: O Brasil não pode pegar o Paraguai ou o Uruguai na primeira fase. Então um grupo da morte poderia ser:

Brasil
França
Costa do Marfim (ou outro africano) 
México 

Vade retro.

Postado por: Marcos Abrucio