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A Copa que afanamos

Ana Carolina?

Hmmmm...

De fato: em 1962, não havia time melhor do que o Brasil.

A base era praticamente a mesma do campeonato da Suécia. Além disso, contava com vários atletas do Santos, então bicampeão mundial de clubes. E o dono da camisa 10 era o melhor jogador do planeta.

No segundo jogo, porém, Pelé teve uma distensão muscular que o vetou para o resto da Copa. Sorte nossa que tínhamos também o segundo melhor jogador do planeta.

Garrincha assumiu o comando do time e foi o melhor em campo em quase todos os jogos. O substituto do Rei, Amarildo, e os agora macacos velhos Nilton Santos, Didi, Zito, Vavá e Zagalo também jogaram muito.

Mas para o Brasil chegar ao bicampeonato, precisou mesmo da atuação decisiva de outro indivíduo: nosso amigo, o juízão.

(E também da Elza Soares, mas essa é outra história.)

Brasil x Espanha

Ahá, uhu, o juizão é nosso.

O homem de preto interveio pela primeira vez no último jogo da primeira fase. Depois de ganhar do México e empatar com a Tchecoslováquia, o Brasil precisava passar pela temível Espanha, que havia nacionalizado dois dos maiores craques de todos os tempos: o húngaro Ferenc Puskas e o argentino Alfredo Di Stefano (que, machucado, não jogou).

O jogo foi casca. Adelardo abriu o placar para os espanhóis, que por várias vezes quase ampliaram. No começo do segundo tempo, Nilton Santos passa o rodo num espanhol dentro da área. A cena seguinte é até hoje reprisada na TV num tom, para dizer o mínimo, bem condescendente (“é a malandragem brasileira, minha gente!”): o lateral dá dois passos sorrateiros para frente, saindo da área. O juiz marca falta.

Após a cobrança, Joaquín Peiró (e não Puskas, como é dito no vídeo abaixo) marca um golaço de bicicleta. Mas o juiz interrompe o lance, apontando uma irregularidade até hoje desconhecida. Absurdo.

Os brasileiros então acordam: Amarildo marca duas vezes, o segundo concluindo uma jogada patenteada de Garrincha. A Espanha foi eliminada, e o Brasil embala no campeonato.

Nas quartas e na semifinal, dois jogos difíceis que Garrincha tornou fáceis: 3 a 1 na Inglaterra e 4 a 2 no Chile. Em 180 minutos, foram quatro gols de Mané.

A partida contra os anfitriões foi nervosa. Depois de apanhar o jogo inteiro, Garrincha revida: sem bola, atinge o zagueiro Rojas. O bandeirinha vê e avisa o juiz, que expulsa o ponta brasileiro.

A história é conhecida: mesmo expulso, Garricha entrou em campo no jogo seguinte. Mas, ao contrário do que se repete, não era certo que ele deveria estar fora — a suspensão automática não estava prevista. Um julgamento decidiria o destino do botafoguense.

Só que o julgamento melou quando o bandeirinha uruguaio Esteban Marino, que, ora, ora, ora, era o mesmo do jogo contra a Espanha, simplesmente não apareceu. A única testemunha do tostão de Garrincha se escafedeu.

Que o sumiço dele foi esquisito e que o cara era um velho conhecido dos brasileiros (ele bandeirava no Campeonato Paulista), todo mundo sabe faz tempo. O dado novo apareceu em fevereiro deste ano, numa entrevista ao Esporte Espetacular.

O árbitro reserva do Brasil na Copa, Olten Ayres de Abreu revelou ao reporter Guilherme Roseguini que o juiz titular brasileiro João Etzel Filho procurou Marino e ofereceu US$ 15 mil (em nome da CBD? De Jango? Dos deuses do futebol?) para ele desaparecer. Anos depois, Olten reeencontraria o uruguaio, que reclamou ter recebido apenas US$ 5 mil…

Não há provas, não há outras testemunhas. Os nomes citados pelo ex-árbitro brasileiro não jogam mais no time aqui da Terra. Mas é mais uma sombra num episódio já bastante nebuloso.

Ronaldo/Garrincha e Homer/Yamasaki

"Sua anta! A final eu vou jogar de qualquer jeito, mesmo..."

Com Garrincha em campo, o Brasil repetiu as atuações dos jogos anteriores, e derrotou a Tchecoslováquia por 3 a 1, de virada. Mais uma vez, jogamos o melhor futebol e conquistamos a taça (nem sempre as duas coisas vêm ao mesmo tempo). Foi lindo.

Por outro lado, também foi feio.

O mundo inteiro pode reclamar da goleada argentina sobre o Peru em 78 e do gol de mão do Maradona em 86. Nós, não. Além do mais, somos reincidentes.

Postado por Marcos Abrucio